A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) vai mobilizar mais aviões, navios e soldados para seus países-membros no Leste Europeu, declarou nesta quarta-feira (16/04), em Bruxelas, o secretário-geral da aliança militar, Anders Fogh Rasmussen. A medida é uma resposta ao acirramento da crise na Ucrânia.
Segundo o comandante supremo da Otan na Europa, general Philip Breedlove, as medidas valerão, no mínimo, até 31 de dezembro, e iniciativas para além dessa data serão consideradas. Ele não excluiu a possibilidade de que se mobilizem também forças terrestres.
"Essas medidas não são uma ameaça à Rússia. Elas são de natureza defensiva e destinadas a assegurar aos nossos aliados no Leste o nosso compromisso inabalável com nossas responsabilidades coletivas de defesa", esclareceu o militar.
Rasmussen confirmou que os embaixadores dos 28 membros da Aliança Atlântica concordaram em intensificar uma missão de policiamento aéreo sobre os Estados Bálticos (Estônia, Letônia, Lituânia) e enviar navios para o Mar Báltico e o leste do Mediterrâneo, além de disponibilizar militares para a região em questão.
O político dinamarquês ressaltou que sua organização ainda torce para que se encontre uma solução política para a crise, apontando para as negociações programadas para esta quinta-feira, em Genebra, de que participam os Estados Unidos e a União Europeia, além dos dois países protagonistas da crise.
Humilhação militar para Kiev
Desde que Moscou anexou a península da Crimeia (até então, território ucraniano) – num processo severamente criticado pela comunidade internacional e que envolveu intimidação armada –, os Estados da Otan mais ao leste se sentem ameaçados pela Rússia.
Assim como diversas nações ocidentais, o governo em Kiev segue acusando o Kremlin de exercer pressão militar sobre a Ucrânia e de instigar os protestos no leste do país, fornecendo pessoal militar e armas aos separatistas.
"A Rússia não exporta só petróleo e gás para a Ucrânia, mas também terrorismo", declarou o primeiro-ministro ucraniano, Arseniy Yatsenyuk, instando Moscou a retirar seus "grupos de espionagem e sabotagem".
Na terça-feira, o presidente interino da Ucrânia, Olexandr Turtchinov, lançou uma assim chamada "operação antiterrorismo", visando coibir o avanço das forças separatistas pró-russas no leste do país. Na interpretação de Moscou, essa medida seria uma ameaça às futuras negociações multilaterais em Genebra.
Até o momento, a missão militar apresenta resultados mistos. Em seu primeiro dia, os militares ucranianos conseguiram retomar o aeroporto militar de Kramatorsk, no distrito de Donetsk, numa operação que custou quatro vidas.
Esta quarta-feira, contudo, foi marcada por humilhações para as forças governamentais. Seis de seus tanques blindados adentraram a cidade de Slaviansk, atualmente sob o controle dos separatistas, portando a bandeira russa. O comboio foi saudado pela multidão com brados de "Rússia! Rússia!". Não está claro se os veículos foram capturados por militantes pró-Kremlin ou entregues a estes por desertores ucranianos.
Em Kramatorsk, outros 15 tanques blindados, transportando numerosos paraquedistas, foram cercados e interceptados por uma multidão pró-russa, que só liberou os militares depois que estes entregaram a munição de seus rifles a um comandante rebelde.
Na capital regional Donetsk, cerca de 20 ativistas pró-russos assumiram o controle da câmara municipal.
Versões contraditórias
As relações de força indefinidas no leste ucraniano têm dado margem a versões contraditórias dos fatos, pelos russos e ucranianos. Um vídeo postado no site ucraniano Espreso.tv mostra uma formação do Exército nacional, incluindo pelo menos dez tanques blindados, atravessar a cidade de Kramatorsk, no leste da Ucrânia, portando bandeiras russas.
Segundo o Ministério da Defesa em Kiev, "comandos terroristas" russos e extremistas locais teriam capturado um grupo de paraquedistas militares ucranianos, naquela cidade do distrito de Donetsk. Os veículos blindados foram vistos mais tarde no centro da vizinha Slaviansk, acompanhados por homens armados "que não têm nada a ver com as Forças Armadas ucranianas", explicou o órgão ucraniano.
A TV estatal russa, contudo, afirmou que o vídeo mostraria como a unidade ucraniana passa para o lado dos separatistas, e noticiou incidentes semelhantes na cidade vizinha de Slaviansk. Miroslav Rudenko, um dos líderes do movimento pró-Rússia, comentou que "agora a 'República Popular' de Donetsk tem seu próprio Exército e os seus próprios paraquedistas".
AV/dpa/afp/rtr