A presidente Dilma Rousseff assumiu alguns compromissos importantes, em seu discurso no Fórum Econômico de Davos, que devem ser devidamente considerados. Ela deu direções certas, no tom adequado, para as políticas monetária e fiscal. A presidente disse que seu governo busca "com determinação" a convergência da inflação para o centro da meta e que, em breve, vai definir o superávit primário para este ano, "consistente com a tendência de redução do endividamento público".
O pronunciamento da presidente, que participou pela primeira vez do Fórum de Davos, deve ser avaliado no atual contexto internacional, quando o fantasma de uma crise cambial atormenta novamente a Argentina.
Ainda é cedo para saber os desdobramentos da situação do país vizinho, que vive uma corrida contra a sua moeda. Depois de uma forte desvalorização do peso, o Banco Central argentino interveio no mercado para acalmar a situação e o governo anunciou a decisão de liberar, a partir de hoje, a venda de dólares para pessoas físicas. Há uma grande expectativa sobre como a população reagirá à medida e sobre uma eventual elevação das taxas de juros.
Não há dúvida de que a situação da economia da Argentina é grave, principalmente quando se noticia que as reservas daquele país estão em torno de US$ 30 bilhões. A depreciação do peso e uma alta dos juros poderão jogar o país em recessão, com a inflação disparando. A indústria brasileira que exporta para o país vizinho certamente sentirá os efeitos dessa crise.
Não é somente o que ocorre próximo daqui que preocupa os mercados. Também há sinais inquietantes vindos da Turquia e, de acordo com análises mais recentes, não será nada trivial a tentativa da China de desalavancar o seu sistema financeiro de forma ordenada. Pode haver uma interrupção do crédito e uma desaceleração mais forte que a prevista. Há riscos, portanto, de uma nova onda de turbulências, com consequências negativas para todos os países emergentes, inclusive, o Brasil.
O primeiro efeito, em geral, ocorre por meio do encarecimento dos empréstimos externos para as empresas, o que as leva a adiar a contratação de créditos. Outra é a redução do fluxo do comércio desses países, o que poderá afetar a atividade econômica brasileira. Tudo isso, entretanto, ainda está no reino da especulação. Mas não se pode deixar de reconhecer que o horizonte da economia internacional está com nuvens mais carregadas do que aparentava no fim do ano passado. No momento em que os países mais desenvolvidos, tendo os Estados Unidos à frente, dão sinais de recuperação, agora são alguns emergentes que começam a apresentar problemas.
No novo contexto externo, em que os perigos foram renovados, ganham importância ainda maior os compromissos assumidos pela presidente Dilma em Davos. Não há dúvida de que os investidores saberão diferenciar a situação macroeconômica brasileira, que não guarda semelhança com a dos países que estão enfrentando dificuldades, embora os dados divulgados na semana passada pelo Banco Central, de que o déficit em conta corrente do país ficou em 3,66% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2013, o maior desde 2001, tenham despertado preocupação.
Com o aumento da aversão ao risco, os investidores poderão se tornar ainda mais cautelosos com as economias emergentes, prejudicando até mesmo aqueles com fundamentos macroeconômicos mais sólidos. Para evitar ou mitigar o risco de contágio é preciso manter, com determinação, diretrizes corretas nas áreas monetária e fiscal.
O pronunciamento da presidente Dilma, e a sua própria presença em Davos pela primeira vez em três anos de mandato, parece resultar de uma preocupação em acabar com uma persistente desconfiança dos investidores na condução da política econômica. O clima de desconfiança tem afetado as decisões de investimentos e prejudicado o crescimento da economia brasileira, que vem patinando nos últimos anos, em níveis abaixo de seu potencial.
Em fevereiro, a presidente terá oportunidade de colocar em prática as boas intenções que anunciou. O governo definirá a meta de superávit primário deste ano e explicará como ela será obtida. Nesse momento, Dilma estará jogando a cartada decisiva de seu governo.