Jack Guez/AFP
Pelo menos 20 palestinos morreram e cerca de 300 ficaram feridos quando as tropas israelenses abriram fogo contra manifestantes que tentavam atravessar a área de cessar-fogo nas colinas de Golã, na fronteira entre a Síria e Israel. A violência ocorreu justamente na data que marca os 44 anos do início da chamada Guerra dos Seis Dias, quando Egito, Jordânia e Síria atacaram o Estado judeu, em 1967. O sangrento episódio de ontem ocorreu apenas 20 dias depois que 13 pessoas morreram e mais de 100 ficaram feridas na mesma região, durante o protesto da Nakba (catástrofe, em árabe), que lembra a criação do Estado de Israel, em 1948.
Antes do novo ataque, o governo de Telavive já havia avisado que não toleraria outra tentativa de invasão da fronteira, como a ocorrida em 15 de maio, mesmo que ela fosse “breve e tranquila”. “Dei ordens para nossas forças de segurança agirem com determinação e retenção quando se trata de proteger a nossa soberania, as nossas cidades e os nossos cidadãos”, afirmou, na manhã de ontem, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, antes da tradicional reunião do Conselho de Ministros, que ocorre todas as semanas.
Na noite de ontem, jovens da principal cidade de Golã, Majdal Chams —localidade dominada pela etnia drusa, que não é reconhecida como árabe pela maioria dos muçulmanos —, protestaram contra o ataque das tropas israelenses. Carregando bandeiras palestinas e sírias, os manifestantes atiraram pedras contra as forças do Exército, depois que o gás lacrimogêneo lançado contra os manifestantes da área de cessar-fogo chegou à localidade. As tropas israelenses lançaram mais granadas de gás e enviaram o batalhão de choque para dispersar os manifestantes. A TV estatal síria transmitiu ao vivo os ataques.
As manifestações não se limitaram às Colinas de Golã. Protestos isolados também tomaram conta da Cisjordânia. Centenas de manifestantes marcharam na entrada de Jerusalém, onde os guardas fronteiriços israelenses dispararam balas de borracha para repelir a manifestação, deixando um saldo de 30 feridos, segundo fontes locais. Nablus, ao norte do país, e Hebron, ao sul, também foram palco de confrontos entre a população e as forças militares.
Primavera árabe
O modelo de manifestações que vem sendo utilizado pelos palestinos é inspirado na chamada Primavera Árabe, na qual protestos não violentos tomaram conta de muitos países da região e já resultaram na derrubada dos ditadores da Tunísia e do Egito. A ideia é mesmo forçar Israel a disparar contra os manifestantes e assim chamar atenção da comunidade internacional para os conflito nas Colinas de Golã, fortemente militarizada desde a guerra de 1967.
Assim como aconteceu há três semanas, o governo de Israel acusou o governo da Síria de apoiar os protestos dos palestinos como uma estratégia de desviar a atenção da sangrenta repressão ao movimento de contestação popular que agita o país desde 15 de março. Em pronunciamento, o primeiro ministro israelense, Benjamin Netanyahu, acusou a Síria de apoiar “elementos extremistas” que “tentam forçar as fronteiras, ameaçando as comunidades e os cidadãos” do país.
As convulsões sociais que pedem mais democracia na Síria já deixaram cerca de 1,1 mil mortos, em manifestações contra o regime do presidente Bashar al-Assad, no poder há quase 11 anos. Segundo entidades de defesa dos direitos humanos, durante o fim de semana, mais 25 pessoas, entre elas mulheres e crianças, foram mortas em Jisr al-Shughour, no noroeste do país, na repressão do exército sírio das manifestações. Manifestantes sírios já convocaram novas manifestações para amanhã, no que está sendo chamado por eles de “dia do despertar”.
Dei ordens para nossas forças de segurança agirem com determinação e retenção quando se trata de proteger a nossa soberania, as nossas cidades e os nossos cidadãos” – Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel.