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Oriente Médio – Discurso aniquila chances de acordo de paz com palestinos

MARCELO NINIO

Binyamin Netanyahu disse sim ao Estado palestino ontem no Congresso americano, o que, numa perspectiva histórica, poderia indicar uma guinada conceitual para um linha-dura que até alguns anos atrás mantinha-se firmemente contra a ideia.

Na prática, porém, as condições que impôs aniquilam qualquer possibilidade de um acordo e abrem a contagem regressiva para a declaração de um Estado palestino na ONU, em setembro.

A suposta guinada de Netanyahu começou há dois anos. Num discurso pouco após sua posse, admitiu pela primeira vez o estabelecimento de um Estado palestino como resultado de um acordo de paz.

As condições apresentadas em junho de 2009 foram praticamente iguais às enumeradas ontem: defesa da indivisibilidade de Jerusalém, rejeição ao retorno de refugiados a Israel e a exigência de que o Estado palestino seja desmilitarizado.

Nesses dois anos, seguidas tentativas do governo americano de intermediar uma retomada das negociações fracassaram, enquanto israelenses e palestinos se afastavam cada vez mais em meio a trocas de acusações.

O impasse nas negociações levou a Autoridade Nacional Palestina a jogar todas as fichas numa estratégia diferente, a busca de reconhecimento internacional. Mais de cem países atenderam ao chamado, entre eles o Brasil.

O próximo passo é levar o pedido às Nações Unidas, em setembro, e pedir que a organização aceite o Estado palestino como membro.

O principal objetivo da viagem do premiê israelense aos EUA era convencer o governo americano a vetar o projeto palestino, o que foi obtido sem muito esforço.

Um dia antes da chegada de Netanyahu a Washington, Obama se manifestou contra a declaração unilateral na ONU em seu discurso sobre o Oriente Médio. Com a missão cumprida, o premiê israelense ficou à vontade para endurecer o discurso, agradando seu gabinete conservador.

O caminho até setembro promete solavancos tanto para israelenses como para palestinos. De um lado, Israel sofrerá intensa pressão internacional por não oferecer um plano de paz viável.

Os palestinos, por sua vez, entram num território diplomático desconhecido. Pelas regras da ONU, a admissão de um novo membro exige a recomendação do Conselho de Segurança, onde os EUA têm poder de veto. Uma ampla maioria na Assembleia Geral poderia virar o jogo.

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