ANDREA MURTA
A rejeição popular às guerras do Afeganistão e do Iraque, a pressão contra o deficit federal e até a morte de Osama bin Laden.
Tudo isso empurra os EUA para algo não visto há mais de uma década: um corte sério dos gastos militares.
O presidente Barack Obama já pediu uma diminuição de US$ 400 bilhões até 2023, mas propostas em circulação e as projeções gerais estimam que o orçamento da Defesa pode cair até US$ 1 trilhão em dez anos.
Hoje, cerca de um quarto de tudo o que o governo gasta vai para Defesa.
Mas em um país que se acostumou desde o fim da Guerra Fria a gastar mais do que todo o resto do mundo combinado nessa área, a tarefa é uma briga de foice.
A começar dentro do Pentágono. Com gastos básicos cotados neste ano em US$ 549 bilhões, o secretário da Defesa, Robert Gates, já pediu para 2012 outro aumento: US$ 553 bilhões.
Em 2011, se somados o que é pedido separadamente para as guerras (US$ 159 bilhões), defesa nacional (US$ 44 bilhões), gastos com veteranos (US$ 122 bilhões) e outros itens, o total ultrapassa US$ 1 trilhão.
Gates ordenou nova revisão dos custos na semana passada, mas não especificou quanto e onde cortar. Ele alertou que, "se vamos reduzir o tamanho das forças americanas, as pessoas precisam fazer escolhas conscientes sobre as implicações para a segurança do país."
Ainda assim, segundo analistas, nunca desde a virada do século a conjuntura foi tão favorável ao corte no orçamento da Defesa.
"As forças que estão puxando o corte são bastante poderosas e externas ao Pentágono", disse à Folha Gordon Adams, pesquisador em Defesa da American University, em Washington.
"A primeira é a pressão contra o deficit, que está no centro da política americana hoje, e, em seguida, vem a diminuição da preocupação com as guerras."
O deficit público dos Estados Unidos está estimado em US$ 1,6 trilhão neste ano -a dívida já atingiu o teto permitido pelo Congresso, de US$ 14,3 trilhões.
Adams afirma que está ocorrendo uma reprodução das forças em ação entre 1985 e 1998, quando os gastos com defesa caíram muito.
"A queda então foi puxada por questões fiscais e o declínio da preocupação com combates após o fim da Guerra Fria", diz.
"Já estamos vendo sinais disso. O que foi destinado para o ano fiscal atual tinha US$ 20 bilhões a menos do que o secretário da Defesa pediu." Para ele, o problema do Pentágono é que, como dobraram os gastos nos últimos dez anos, perderam toda a disciplina.
Destino dos recursos gera controvérsias
Pentágono, indústria da Defesa e Congresso resistem como podem a cortes em armamentos. Mas boa parte do que consome recursos é controverso.
Argumenta-se que os porta-aviões são cada vez mais obsoletos, pois levam aeronaves caras e tripuladas em uma era em que os não tripulados são cada vez mais usados.
Na operação na Líbia, a maior parte dos ataques foi feita por mísseis guiados como os Tomahawks, de longo alcance. Porta-aviões foram marcantes pela ausência.
Calcula-se que US$ 217 bilhões poderiam ser economizados até 2020, reduzindo a frota de 286 para 230 navios; aposentando dois porta-aviões e seus esquadrões, reduzindo compras de jatos F-35 e aposentando dois esquadrões da Força Aérea.
Para Gordon Adams, principal assessor da área no governo Clinton (1993-2001), a primeira coisa a fazer é eliminar postos. Gastos com pessoal consomem 42% do orçamento.