A ONU denunciou nesta sexta-feira “execuções sumárias” e “extrajudiciais” no Iraque, enquanto jihadistas se movem a partir de três pontos em direção a capital, Bagdá, depois de fortalecer seu poder em territórios conquistados no Norte do país. Diante da ofensiva relâmpago dos insurgentes, o governo iraquiano anunciou nesta sexta-feira um plano para defender a capital de um ataque iminente. Forças governamentais entraram em confronto com militantes na cidade de Baquba, a 48 km de Bagdá, segundo a agência AFP.
Baquba é a capital da província de Diyala, cuja mistura entre árabes, curdos, sunitas e xiitas tornou-se sinônimo de violência desde a invasão liderada pelos Estados Unidos em 2003, disse a agência. As forças de segurança também lutam nesta sexta-feira contra militantes nos arredores de Muqdadiyah, a 37 km de Baquba, segundo a polícia e oficiais do Exército.
Em uma rara intervenção nas orações de sexta-feira na cidade sagrada de Kerbala, religiosos repassaram aos fiéis uma mensagem do clérigo mais influente para os xiitas no Iraque, Ali al-Sistani, conclamando seus seguidores às armas para se defenderem de insurgentes.
— As pessoas que são capazes de carregar armas e lutar contra terroristas em defesa de seu país devem se oferecer para se juntar às forças de segurança e atingir esse objetivo sagrado —disse Sheikh Abdulmehdi al-Karbalai, citando a mensagem de Ali al-Sistani.
De acordo com o porta-voz da área de direitos humanos da ONU, Rupert Colville, o número de mortos depois que militantes invadiram a cidade de Mossul no começo da semana pode chegar a centenas. A matança incluiu, segundo ele, 17 civis que trabalhavam para a polícia e um empregado do Judiciário no centro de Mossul. Além disso, quatro mulheres se mataram depois de terem sido estupradas e 16 georgianos foram sequestrados. E prisioneiros libertados por militantes estavam procurando vingar-se dos responsáveis por sua prisão.
— Nós recebemos ainda informações indicando que as forças do governo também cometeram excessos, em especial o bombardeio de áreas civis entre 6 e 8 de junho — disse ele. — Há alegações de que até 30 civis podem ter sido mortos.
Ainda de acordo com Colville, a alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Navi Pillay, expressou preocupação com “a deterioração dramática da situação no Iraque”, de onde vem “informações sobre execuções sumárias e extrajudiciais e deslocamento maciço de meio milhão de pessoas”.
Os combatentes do grupo radical sunita Estado Islâmico do Iraque e da Síria (Isis) avançam em direção a capital pelas províncias de Al Anbar, no Oeste do país, de Saladino, no Norte, e de Diyala, no Leste. Testemunhas disseram que centenas de militantes estão se aglomerando perto da cidade de Samarra, a 110 km da capital, para tentar tomá-la.
Aproveitando-se da debandada das forças armadas, que abandonaram seus postos durante as invasões, milhares de jihadistas tomaram desde terça-feira toda a província de Nínive (Norte), incluindo sua capital, Mossul; Tikrit e outras áreas da província de Saladino, e partes das províncias de Diyala e Kirkuk. Em Al Anbar, controlam desde janeiro a cidade de Fallujah, a 60 km de Bagdá, e parte de Ramadi.
Ante a impotência do poder iraquiano, dominado por xiitas, e seu Exército, o presidente dos EUA, Barack Obama, disse que sua equipe de segurança nacional considera “todas as opções”, mas descartou o envio tropas terrestres, retiradas desde 2011. Um funcionário do alto escalão dos EUA mencionou a possibilidade de se mobilizar aeronaves não tripuladas , os chamados drones.
O primeiro-ministro Nuri al-Maliki, um xiita no poder desde 2006 e tachado de autocrata pelos seus adversários sunitas e inclusive xiitas, pediu que a tribos que formassem unidades de voluntários para ajudar o Exército.