Um relatório divulgado nesta segunda-feira (17/02) pela ONU denunciou uma série de crimes contra a humanidade cometidos durante as últimas seis décadas na Coreia do Norte. O estudo de mais de 370 páginas, baseado em relatos de desertores, compara as atrocidades às da Alemanha nazista e diz que os responsáveis, inclusive o ditador Kim Jong-un, deveriam ser levados ao Tribunal Penal Internacional (TPI).
“Violações sistemáticas, generalizadas e graves dos direitos humanos têm sido e estão sendo cometidas pela República Democrática Popular da Coreia, pelas suas instituições e funcionários", afirma a Comissão de Inquérito sobre a Coreia do Norte, criada em março do ano passado pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU.
De acordo com o relatório, entre os crimes cometidos pelo regime norte-coreano estão assassinatos, torturas, estupros, abortos forçados e perseguições políticas. A comissão ainda estimou entre 80 e 120 mil o número de presos políticos mantidos pelo governo. Os dados coletados também indicam que cerca de 200 mil estrangeiros teriam sido sequestrados ou desapareceram depois de chegar ao país por vontade própria.
A comissão não pôde entrar no país para fazer o relatório e teve de fazer suas pesquisas usando como base relatos de desertores e ex-presos. Imagens de satélite foram utilizadas para confirmar a localização de campos de prisioneiros – cuja existência é negada pelo regime comunista.
Em uma carta separada a Kim Jong-un, o líder da comissão, o ex-juiz australiano Michael Kirby, alertou sobre as medidas que deverão ser tomadas daqui para frente. “A comissão deseja chamar sua atenção que recomendará às Nações Unidas que encaminhe a situação na Coreia ao Tribunal Penal Internacional para que todos prestem contas, incluindo possivelmente você”, escreveu.
Segundo Kirby, após investigações preliminares, foram constatadas "atrocidades indescritíveis" entre detentos em campos de prisioneiros, comparáveis aos abusos encobertos pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial.
A missão diplomática da Coreia do Norte em Genebra rejeitou o relatório, qualificando-o como um “instrumento de uma conspiração política” cujo objetivo é “sabotar” o sistema socialista. Em uma declaração oficial, representantes do regime afirmam que as violações listadas no documento não existem.
O governo dos EUA elogiou o relatório, afirmando que ele documenta de maneira clara a “realidade brutal” dos abusos cometidos por Pyongyang. A China, porém, um dos principais aliados do regime de Kim, se mostrou contra a ideia de encaminhar o caso para a corte de Haia e disse que um “diálogo construtivo” seria a melhor resposta para a situação.