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ONG critica posição do Brasil na crise síria

Gustavo Chacra

O Brasil foi acusado pela Human Rights Watch (HRW) de ficar ao lado dos autocratas e não da população de países como a Síria durante a Primavera Árabe. Para a organização, o governo brasileiro deveria rever suas posições a respeito da região e sempre defender os direitos humanos, em vez de se guiar por versões "ultrapassadas de soberania nacional".

"A resposta mais decepcionante à Primavera Árabe veio de alguns governos democráticos do Hemisfério Sul, como o Brasil, a Índia e a África do Sul. Pareciam ser guiados não pelas aspirações do povo árabe, mas pelo compromisso com visões ultrapassadas da soberania nacional, mesmo quando isso resulta na blindagem de regimes repressivos que necessitam urgentemente de pressão internacional", afirma o texto do diretor executivo da HRW, Kenneth Roth, publicado ontem no Cairo.

Segundo a entidade, "apesar de terem desenvolvido governos responsáveis e um Estado de Direito, essas democracias do Sul apenas mostraram interesse esporádico em ajudar o povo do mundo árabe que lutava para conseguir o mesmo que eles já conquistaram".

"Com mais frequência, eles apontaram para o potencial uso indevido dos direitos humanos, temendo uma pressão que poderia servir como ferramenta de dominação do Norte, para justificar o não uso de sua própria influência sobre os graves infratores dos direitos humanos", escreveu Roth.

De acordo com ele, "a insistência de princípios no respeito pelos direitos também é a melhor forma de ajudar esses movimentos populares a se afastarem da intolerância, da injustiça e de uma vingança que são um risco em qualquer revolução".

A HRW lamentou principalmente a decisão brasileira de não apoiar uma resolução condenando o regime de Bashar Assad no Conselho de Segurança da ONU. Segundo as Nações Unidas, mais de 5 mil pessoas foram mortas pela repressão do governo e o cenário se aproxima ao de uma guerra civil, com a oposição se armando cada vez mais.

"Em vez de ajudar o povo sírio, o Brasil, a Índia e a África do Sul se recusaram a apoiar a ação do Conselho de Segurança, mesmo quando o governo Assad matava milhares de manifestantes. Foi só na fraca Assembleia-Geral da ONU que o Brasil apoiou uma resolução crítica sobre a Síria, enquanto que Índia e África do Sul se abstiveram."

Missão árabe

A Liga Árabe decidiu ontem manter por mais um mês sua missão de observadores na Síria. A decisão foi tomada durante encontro entre os ministros das Relações Exteriores árabes no Cairo. Além da prorrogação do prazo da missão, eles decidiram também enviar mais observadores ao país.

Os chanceleres árabes também exigiram que Assad transfira seus poderes ao vice-presidente do país, Farouk al-Shara, para viabilizar a formação de um governo de união nacional no prazo de dois meses, o qual deve legitimar uma nova eleição presidencial.

No entanto, o ministro de Relações Exteriores da Arábia Saudita, Saud al-Faisal, anunciou seu país retirará seus observadores da Síria. "A Arábia Saudita retirará seus observadores da missão porque o governo sírio não respeitou nenhuma das cláusulas do plano árabe para solucionar a crise", declarou Faisal.

Legitimidade

A missão de observadores da Liga Árabe à Síria vem sendo constantemente acusada pela oposição de legitimar a violência do regime de Assad contra a população. De acordo com o Comitê de Coordenação Local, grupo de opositores, 12 pessoas foram mortas ontem em confrontos em diferentes partes da Síria. / REUTERS, AFP, NYT e AP

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