Para o especialista em Oriente Médio e estudioso do islamismo Udo Steinbach, o envolvimento militar do Ocidente na guerra civil da Síria, por meio da criação de uma zona de exclusão aérea, ajudaria na resolução do conflito. "A questão não é 'mais diplomacia, sim ou não?'; a questão é 'operação militar, sim ou não?'", afirma, em entrevista à DW.
"Na verdade, apenas lutam a Força Aérea síria e os russos, que apoiam a Força Aérea síria. A oposição luta um pouco, e o Ocidente não luta nada. E enquanto for assim, aqueles que optam pela luta sempre terão as melhores cartas", argumenta Steinbach, que, por 30 anos, dirigiu o Deutsches Orient-Institut, em Hamburgo.
DW: Devemos diver que a situação momentânea na Síria é desesperadora?
Steinbach: Sim, ela é desesperadora. Mesmo que se encontre um acordo formal, como há alguns dias, ele permanece sendo apenas um acordo formal e não ajuda muito, nem no que diz respeito a Aleppo, nem no que diz respeito à situação como um todo. Os interesses são simplesmente muito distintos. O Ocidente segue querendo ficar de fora, quer ficar na linha lateral, quer se limitar a coisas humanitárias, e os russos e sírios querem provocar uma solução militar.
Isso soa macabro, mas existe pelo menos a perspectiva de que as partes lutem até a exaustão?
Sim, mas não hoje nem amanhã. E, sobretudo, só uma das partes luta. Na verdade, apenas lutam a Força Aérea síria e os russos, que apoiam a Força Aérea síria. A oposição luta um pouco, e o Ocidente não luta nada. E enquanto for assim, aqueles que optam pela luta sempre terão as melhores cartas. Quer dizer, a questão não é "mais diplomacia, sim ou não?"; a questão é "operação militar, sim ou não?". Há alguns dias, falou-se pela primeira vez, depois de um longo tempo, sobre uma zona de exclusão aérea, e exatamente este seria o primeiro, o correto e o mais importante passo.
Quer dizer que, se houvesse vontade política, poderia ser encontrada uma solução?
É evidente que sim. A solução não de imediato, mas um primeiro passo rumo à solução, um primeiro passo em direção a deixar claro, para russos e sírios, que se está finalmente disposto a fazer algo, que se envia uma resposta militar em oposição à violência militar. Até agora isso não foi feito, optou-se sempre pelo recuo, por se recolher em fórmulas. E, do outro lado, tem-se lutado e, é necessário dizê-lo, vencido, e não vai-se querer, cinco minutos antes da vitória final, permitir que a manteiga seja retirada do pão, por assim dizer.
Até que ponto esse envolvimento militar deve ir?
Sobre isso já se falou: uma zona de exclusão aérea para aviões de guerra sírios. As aeronaves seriam derrubadas caso levantassem voo. E então veríamos o que os sírios fariam, veríamos o que os russos fariam. E, acima de tudo, se os bombardeios continuarem, saberia-se quem, afinal, bombardeia. Hoje não se sabe. É a Força Aérea da Síria? É a Força Aérea russa? Quem atacou recentemente o comboio? Uma zona de exclusão aérea contra jatos sírios ajudaria a separar o joio do trigo.
O Ocidente viu, na Líbia, o que acontece quando desaparece um líder que pode até reger de forma autocrática, mas pelo menos consegue manter o país unido. O Ocidente poderia, diante desse exemplo, estar disposto a tolerar Assad no futuro?
Isso seria absurdo. Depois de tudo o que aconteceu, seria absurdo tolerar um líder que tem massacrado centenas de milhares de pessoas de seu próprio povo, que literalmente pôs metade da população em fuga. Isso é totalmente impensável. Uma solução diplomática com Assad não existe mais. E por que russos, iranianos e outros claramente ainda sonham com uma solução desse tipo, esta solução não será possível. No final, permanece de fato apenas um acirramento, também nas variantes militares.
Do outro lado, muitas pessoas dizem que, entre os grupos rebeldes, que foram parcialmente apoiados, quase não há mais interlocutores moderados.
Isso simplesmente não é verdade. É claro que há muitos radicais, e há muitos moderados, e no meio há uma variedade de organizações que, de uma forma ou de outra, são, digamos, semirradicais, islâmicas. E se alguém fizesse um esforço e se houvesse vontade política e, atrás dela, também vontade militar, então seria possível forjar uma frente de oposição que seja apoiada de forma sustentável e seja fortalecida, para provocar uma mudança de poder em Damasco. Agora se usa desculpas, de que seriam grupos sem perfil, radicais. Essas são desculpas porque se está com medo das últimas consequências, ou seja, de arriscar uma opção militar, um apoio militar à oposição. Mas, quando se rejeita essa ajuda militar, também se desqualifica, digamos assim, a oposição política.