Trata-se da maior ameaça à segurança do Iraque desde a retirada das tropas americanas, em 2011: o perigo representado pelas milícias radicais islâmicas do grupo terrorista sunita EIIL (Estado Islâmico do Iraque e do Levante). Agora, Washington prometeu a Bagdá ajuda adicional contra essa ameaça.
Após a tomada de Mossul, a segunda maior cidade do Iraque, as tropas do EIIL avançaram nesta quarta-feira (11/06) em direção ao sul. Porém, de acordo com relatos da mídia, tropas iraquianas recuperaram a cidade de Tikrit nesta quinta-feira.
Segundo a porta-voz do Departamento de Estado americano, Jen Psaki, Washington está trabalhando com os parceiros no Iraque numa "ação conjunta" contra a permanente agressão dos islamistas. No contexto de um acordo estratégico entre os dois países, os Estados Unidos vão fornecer ao Iraque toda assistência adequada para que esses esforços sejam bem-sucedidos, afirmou a porta-voz.
"A nossa equipe de segurança nacional analisa todas as opções. Trabalhamos sem descanso para identificar como fornecer a ajuda mais eficaz. Não descarto nada", afirmou o presidente Barack Obama nesta quinta-feira. Apenas o uso de tropas terrestres não está em discussão, acrescentou o gabinete presidencial.
A ajuda deverá incluir armas e informações de inteligência, opina Bem Connable, especialista em Iraque do think tank americano Rand Corporation. Já no início de 2014, Washington enviou armas a Bagdá para apoiar as tropas do governo iraquiano a reconquistar a cidade de Faluja, tomada em janeiro por tropas do EIIL.
Ainda que, com 1,4 milhão de habitantes, a cidade seja muito menor que Mossul, os militares iraquianos não conseguiram, apesar de seus mísseis antitanque, recuperar Faluja das mãos das milícias radicais islâmicas.
Enviar armas e consultores é um projeto de longo prazo, explica Connable. Para que a polícia ou o Exército funcionem de forma mais eficaz, são necessários anos de treinamento e suporte. "Um tempo que não mais possuímos."
Vácuo de segurança
Inicialmente, os EUA planejavam manter no Iraque um núcleo para o treinamento das Forças Armadas. Como Bagdá não concordou com a exigência de imunidade total para os soldados americanos, todas as tropas americanas deixaram o país. Desde então, o Iraque teve de cuidar, mais ou menos sozinho, de seus problemas de segurança.
A decisão da Casa Branca de retirar todas as tropas do Iraque contribuiu para deteriorar a situação de segurança, afirmou o senador John McCain no início desta semana. "Sem dúvida, poderíamos ter deixado tropas, como na Coreia, Alemanha e Bósnia", argumentou o político republicano. "Mas não fizemos isso e agora reina o caos no Iraque."
O primeiro-ministro Nuri al-Maliki não quis a presença americana no país, lembra Wayne White, ex-analista-chefe para o Iraque do serviço de inteligência do Departamento de Estado. Ele afirma que Al-Maliki rejeitou os esforços americanos de envolver tribos sunitas, antes inimigas, na luta contra a Al Qaeda.
"Este premiê persegue, já há muito tempo, uma agenda xiita tacanha e sectária", comenta White. O analista afirmou que Al-Maliki não desejava os EUA no país, já que não queria manter a promessa feita em 2009 de trabalhar com as antigas tribos inimigas.
Xiitas versus sunitas
Os sunitas iraquianos culpam o governo central dominado pelos xiitas de ter utilizado as medidas antiterroristas como pretexto para reprimir a minoria sunita. O vice-presidente sunita Tarik al-Hashimi fugiu para a Turquia após um tribunal iraquiano tê-lo condenado à morte, em setembro de 2012, sob a acusação de terrorismo.
Somente alguns meses depois, tropas do governo iraquiano atiraram em manifestantes sunitas em Hawija, no norte do país. Dezenas de pessoas foram mortas. Na ocasião, Bagdá afirmou que homens armados teriam matado a tiros um soldado iraquiano, e que isso desencadeou os confrontos violentos.
Al-Maliki e seus parceiros xiitas no governo não confiam nos árabes sunitas e não desejavam que eles exercessem papel qualquer no Iraque do futuro, opina White. "Burramente, eles pensavam que isso iria funcionar."
Segundo Connable, esse sentimento de exclusão levou muitos sunitas iraquianos a apoiar tacitamente o grupo terrorista EIIL, mesmo que não compartilhem a ideologia do grupo. A guerra civil na vizinha Síria agravou ainda mais a situação, proporcionando ao EIIL um estímulo para seus ataques no Iraque.
Embora não se vislumbre uma solução de longo prazo para a violência, Washington deve tentar convencer Bagdá da gravidade da situação, diz Connable. Para ele, é preciso dar atenção às queixas dos sunitas. "Podemos ao menos tentar estabilizar o Iraque", comenta. "Neste momento, seríamos capazes de parar o derramamento de sangue."