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O fim da era de ouro das commodities

 

Nota DefesaNet

A rápida mudança do cenário de commodities abre uma série de questões ao Brasil. Como ficará a VALE? A PETROBRAS?

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O editor

Bloomberg News

Ultimamente, porém, as commodities estão indo ladeira abaixo. Na última conferência de resultados do banco americano Morgan Stanley, a diretora financeira, Ruth Porat, classificou essa fraqueza como cíclica ao invés de estrutural. Mas uma mudança mais fundamental parece estar em andamento.

Duas coisas sustentaram a alta das commodities industriais. Primeiro, preços baixos desencorajaram investimentos em novas minas e campos de petróleo durante boa parte dos anos 80 e 90. Segundo, a demanda em mercados emergentes, principalmente na China, deu um salto.

Preços altos incentivaram investimentos em novas fontes. O exemplo mais óbvio foi a recuperação da produção de petróleo e gás natural nos Estados Unidos. Os gastos mundiais com recursos petrolíferos foram de US$ 700 bilhões neste ano, mais do quádruplo de dez anos atrás, segundo estimativa da consultoria IHS Herold.

Algo semelhante está acontecendo com os metais e minerais usados na indústria. A Caterpillar acabou de cortar suas previsões de lucro e receita, citando a fraca demanda por equipamentos de mineração. O excesso de capacidade vem há anos pesando sobre o preço do alumínio e já começou a atingir o do minério de ferro.

Agora, é o cobre que está sentindo os primeiros efeitos. O banco Barclays projeta que a oferta mundial do metal ultrapassou o consumo no ano passado e continuará à frente pelo menos até 2014, revertendo os déficits de 2010 e 2011. Agora que a oferta está acelerando, o crescimento da demanda diminuiu.

O baixo crescimento e o uso mais eficiente dos combustíveis, principalmente nos EUA, levam a Agência Internacional de Energia a prever que a demanda de petróleo nas economias avançadas em 2017 será menor que em 1997.

Para os que apostam na alta do petróleo, a China é o grande trunfo. Entre 1998 e 2007, o país respondeu por 29% do crescimento da demanda por petróleo, com a antiga União Soviética e o Oriente Médio sendo dois outros centros de crescimento. De fato, a agência espera que a demanda combinada dos dois ultrapasse a da China até 2017. Mas a economia dessas duas regiões está altamente atrelada às exportações dos próprios combustíveis. Assim, as estimativas do seu consumo vão depender do desempenho da China.

O consumo de petróleo da China durante esta década não deve repetir os altos volumes da última, quando ele quase dobrou. No começo daquele período, a China consumia entre 1,5 barril de petróleo para cada US$ 1.000 do seu produto interno bruto, segundo a firma Raymond James. Em 2012, esse consumo tinha caído para menos de um barril.

O crescimento do PIB da China diminuiu devido à fraqueza de mercados que recebem suas exportações, especialmente a Europa. Além disso, o governo está tentando mudar o foco da economia dos investimentos, que atualmente respondem por metade do PIB, para o consumo, que representam apenas um terço. Essa mudança será um freio considerável para o crescimento.

A demanda por metais poderia ter um desempenho ainda pior nesse cenário, considerando o quanto ela está ligada à febre de construção na China. Por exemplo, entre 2005 e 2010, a China respondeu por 150% do crescimento da demanda mundial por cobre (levando em conta o crescimento negativo de alguns países). O Barclays calcula que tal dependência permanecerá alta no período entre 2010 e 2014, com a China representando 99% do crescimento líquido.

O outro lado da moeda é uma possível aterrissagem acidentada da China. A Longview Economics, apontando para uma alavancagem elevada, estima que o setor privado da China precisará de perto de US$ 3 de financiamento para cada US$ 1 que adicionar ao PIB, mais de 2,5 vezes o nível prevalente antes da crise financeira. O risco de uma bolha de crédito estourar na China, emperrando o crescimento, é real.

Ainda há dinheiro a se ganhar com commodities. Mas isso vai requerer gerenciamento ativo de investimentos, conhecimento do mercado e ações no tempo certo. Isso está mais de acordo com as habilidades de operadores especializados do que com a abordagem de comprar e segurar que ganhou força nos últimos dez anos. Essa era de ouro das commodities chegou ao fim.

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