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O bolívar venezuelano sofre uma nova desvalorização encoberta de 88 por cento

Miguel Jiménez Madri


O valor do bolívar venezuelano cai. O que era uma realidade na rua, onde funciona um mercado paralelo bem longe do câmbio oficial, passou a ser visto também nas operações do Banco Central da Venezuela. O primeiro leilão do novo Sistema de Câmbio Alternativo de Divisas (SICAD II) fixou nesta segunda-feira um câmbio médio de 51,8604 bolívares por dólar. Esse câmbio supõe uma depreciação de 88% em relação ao câmbio oficial, que continua artificialmente fixado em 6,3 bolívares por dólar, e de 78% se se tem como referência os 11,36 bolívares do arremate do Sistema Complementar da Administração de Divisas (SICAD), realizado em 15 de janeiro, que já supunha uma depreciação de 44%.
 

O novo sistema cambial, que permite a compra de dólares com menores restrições, é um primeiro passo para o reconhecimento de que a divisa venezuelana perdeu praticamente todo seu valor desde a chegada de Nicolás Maduro ao poder. Com seu predecessor Chávez ainda vivo, Maduro assumiu os poderes econômicos e aprovou uma desvalorização de 32% há um ano, desde 4,3 até 6,3 bolívares por dólar. Depois começou uma série de desvalorizações encobertas pouco transparentes através do SICAD, e agora se começa a reconhecer a evidência com o SICAD II.

O líder opositor venezuelano Henrique Capriles qualificou ontem de "megadesvalorização" o resultado da primeira sessão do Sicad II em sua conta do Twitter. O líder opositor se referiu a esta primeira jornada do Sicad II como "a segunda-feira negra de Nicolás", ao estimar que com a nova taxa de câmbio, a Venezuela passará a ter "o salário mínimo mais baixo" da América Latina depois de Cuba. Por erro, no entanto, Capriles cifrou a desvalorização em 400%, que é o que o dólar se revaloriza diante do bolívar, ao passar de 11,36 a 51,86, quando o correto seria dizer 78%, que é a perda de valor da moeda venezuelana desde a última referência.


A desvalorização é uma má notícia para três empresas espanholas que têm interesses na Venezuela. A primeira, Telefónica, acumula um impacto de 4,6 bilhões de euros em suas contas nos últimos anos, como consequência das sucessivas desvalorizações do bolívar. Ainda falta contabilizar 1,8 bilhão da desvalorização anterior, de janeiro. A empresa ainda não publicou as estimativas do impacto do novo câmbio, mas com referência nos cálculos mais recentes, a nova depreciação pode afetar seu patrimônio em 1,5 bilhões de euros, sendo que 1 bilhão seria em ativos financeiros líquidos, denominados bolívares fortes.

Além da Telefónica, o banco BBVA e a seguradora Mapfre podem ser afetados. Em 2013, a Venezuela foi o segundo mercado latino-americano para a seguradora, que teve 64,7 milhões de euros em resultados, segundo as contas apresentadas recentemente. A cota de mercado da empresa no país é de 6,9%. Já o BBVA controla 55% do Banco Provincial, cujo valor líquido nos registros oficiais é de 493 milhões de euros. A filial venezuelana do BBVA tem um patrimônio de 1,5 bilhões e teve um fechamento em 2013 de 645 milhões de euros. A desvalorização, portanto, terá um impacto de vários bilhões, tanto para a Mapfre quanto para o BBVA.


A Repsol também realiza investimentos no país e tem operações de exploração e produção, mas como a moeda operativa dos negócios do petróleo é o dólar e os gastos são em moeda local, o impacto é pouco relevante.

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