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O Acordo EUA-CORÉIA do NORTE de 2012

Leonam dos Santos Guimarães
Doutor em engenharia naval e nuclear, assistente da Presidência da Eletrobrás Eletronuclear
e membro do Grupo Permanente de Assessoria da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA)


O recente acordo firmado entre os EUA e a Coréia do Norte é um passo importante por três razões. A primeira, porque ganha tempo. Outro teste nuclear acompanhado do anúncio da Coréia do Norte ter conseguido miniaturizar ogivas para mísseis só faria uma situação ruim ficar ainda pior. O acordo coloca essa possibilidade mais distante, dependendo do progresso a ser feito em novas negociações.

Em segundo lugar, além de parar as atividades de sua usina de enriquecimento de urânio, se a Coréia do Norte permitir que os inspetores da AIEA verifiquem a suspensão de seu funcionamento, será possível conhecer mais sobre o atual estágio de seu programa nuclear. Note-se que apenas um grupo de estrangeiros convidados viu o interior da instalação, e apenas brevemente. O interessante é que os norte-coreanos sabem que um futuro monitoramento irá revelar mais informações sobre suas capacidades. Por que eles estão dando esse passo? É difícil dizer.

Finalmente, este arranjo pode ajudar a construir uma base para novos progressos no sentido de parar e, eventualmente, até reverter, o esforço nuclear da Coréia do Norte. Muitos especialistas falam sobre "desnuclearização", não sabendo que tal processo não pode acontecer do dia para a noite, especialmente com um programa que já tem quase cinco décadas. Note-se que a Coréia do Norte não é a Líbia: sua eventual “desnuclearização” exigirá em primeiro lugar um “congelamento” para depois ser iniciada uma “reversão”, que vai levar tempo.
Uma série de problemas potenciais parecem claros nas declarações unilaterais de ambos os países. A distribuição de alimentos não será um problema, já que grande parte dos detalhes já estão resolvidos. A implementação da moratória, no entanto, parece ser difícil, pois requer que a Coréia do Norte e a AIEA trabalhem em medidas de salvaguardas, particularmente na usina de enriquecimento de urânio de Yongbyon. Há uma história de péssimas relações entre os dois, embora todas as poucas vezes que a Coréia do Norte consentiu cooperar com a AIEA, claramente o fez porque era do seu interesse, como parece ser dessa vez.

A declaração unilateral da Coréia do Norte deixa claro também que "prioridade será dada à discussão das questões relativas ao levantamento das sanções e fornecimento de usinas nucleares". Pyongyang insiste que isso deverá acontecer para que ela desista de seu programa de enriquecimento de urânio e armas nucleares. Isto é problemático, pois nenhum país está interessado em fornecer usinas nucleares à Coréia do Norte. Mas a China pode ser uma exceção, desde que o Ocidente pague a conta.

Alguém poderia perguntar por que este acordo foi alcançado agora? É uma boa pergunta. Todos os especialistas vinham opinando que nada iria acontecer em 2012, uma vez que este é um ano eleitoral nos EUA e Pyongyang teria pouco interesse em chegar a novos acordos. O acordo foi uma grande surpresa para muitos. É difícil dizer o que está acontecendo, exceto que agora os EUA parecem ter entendido que a sua política de "paciência estratégica", tentando convencer Pyongyang a mudar o seu mau comportamento por meio de pressão e isolamento, falhou. Pressão e isolamento são bons, mas sem estender a mão através da diplomacia, se transformam num beco sem saída. Qualquer semelhança com o caso iraniano não é mera coincidência.

Sobre o porquê da Coréia do Norte ter feito este movimento, alguns poderiam dizer que esse acordo prova que a "paciência estratégica" dos EUA tem trabalhado e Pyongyang está “dando o braço a torcer”. Analistas mais atentos, entretanto, acreditam que isso pode refletir um desejo da Coréia do Norte de escapar do “abraço do urso chinês”, no contexto de um relacionamento que hoje é muito mais forte do que já foi no passado. Outros vêem como um passo tático feito porque a Coréia do Norte quer manter um ambiente externo calmo durante o primeiro ano de sua transição de liderança. Outros ainda acreditam que o Norte concordou com uma moratória porque realmente não está pronto para realizar mais testes nucleares ou de mísseis e precisa de tempo para trabalhar mais seu programa de enriquecimento nas instalações de Yongbyon. Todas essas explicações são possíveis.

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