Quando, em setembro de 2013, o escândalo de espionagem vivia seu ápice, a presidente Dilma Rousseff deixou claro que só reconsideraria a decisão de cancelar sua visita à Casa Branca caso ouvisse um pedido de desculpas de Barack Obama.
Se a partir do próximo sábado (15/11), durante a cúpula do G20 na Austrália, ela enfim ouvirá o quer, é incerto. Mas Obama terá mais uma chance de quebrar o gelo instaurado nas relações diplomáticas entre Brasil e Estados Unidos desde então.
No período de mais de um ano, oportunidades não faltaram – como na cúpula do G20 do ano passado, numa visita do secretário de Estado John Kerry a Brasília ou num telefone com o próprio Obama. Mas a presidente brasileira se manteve firme.
"O encontro pode ser importante para quebrar o gelo e acelerar um pouco a relação entre os dois países, que estava moribunda", opina Leonardo Paz Neves, coordenador do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri). "Sobre uma ida de Dilma a Washington, dificilmente será algo rápido, já que os EUA recebem, em média, duas visitas de Estado por ano. De todo modo, a bola está com a presidente brasileira."
Desinteresse mútuo
Os dois líderes devem ter um encontro paralelo à cúpula. A reunião indica uma reaproximação de forma hesitante, já que o tema espionagem ainda não foi totalmente superado pelo Planalto. Ao mesmo tempo, a parceria com os EUA é chave para o Brasil, e a presidente não tem outra opção, senão dar continuidade à agenda bilateral.
Analistas políticos ressaltam, porém, uma espécie de desinteresse mútuo em se empenhar para a retomada das relações. Os EUA se veem diante de outras prioridades, como o Oriente Médio, a expansão das políticas do Kremlin no leste europeu e a China. E o Brasil ainda sustenta o foco na chamada diplomacia Sul-Sul, nos vizinhos e nos países dos Brics.
"É claro que haverá intercâmbio de mensagens de cordialidade, mas nada de um avanço mais substantiva na relação bilateral", prevê Marcos Troyjo, professor do Ibmec/RJ e diretor do BricLab da Universidade de Columbia (EUA).
Na Austrália, o encontro com Obama será apenas um na intensa pauta de reuniões bilaterais de Dilma. Ela deve se reunir também com a chanceler federal alemã, Angela Merkel, e com os presidentes da Rússia, Vladimir Putin, e da China, Xi Jinping.
Outro ponto que pode emperrar uma reaproximação é o cenário interno nos dois países. Dilma encontra-se em meio à formação de sua equipe de governo, e Obama ainda é afetado pela ressaca da vitória dos republicanos, que estão no controle da Câmara e do Senado americanos.
"A reaproximação só depende do Brasil. Mas o fato de a equipe do segundo mandato de Dilma ainda não estar definida pode retardar uma maior integração", opina o professor de relações internacionais Francisco Américo Cassano, do Mackenzie. "Além disso, ainda não sabemos se o segundo mandato de Dilma será diferente dos primeiros quatro anos, quando foi dada mais atenção aos países da América do Sul e da África."
Relação turbulenta
Assim que o caso do monitoramento comunicações como telefonemas, e-mails e mensagens de celular da presidente, de empresas como a Petrobras e de cidadãos brasileiros pela Agência de Segurança Nacional (NSA) veio à tona, Dilma exigiu explicações do governo dos EUA. Porém, não ficou satisfeita com as respostas dadas pelos americanos.
O secretário de Estado americano, John Kerry, visitou o então chanceler Antonio Patriota na metade de agosto de 2013 em Brasília para tentar aliviar a tensão antes da viagem que Dilma faria aos EUA. Mas nem isso adiantou.
O presidente americano também tentou colocar panos quentes no caso de espionagem, mas não obteve sucesso após um encontro com Dilma na reunião do G20 na Rússia e um telefonema de 20 minutos com a presidente brasileira em setembro de 2013.
Dilma chegou a atacar a espionagem dos EUA durante discurso de abertura da Assembleia Geral da ONU, em setembro de 2013. E, em dezembro, lançou uma resolução conjunta com a Alemanha nas Nações Unidas – Merkel também teve seu celular grampeado pela NSA – contra a espionagem e a favor da proteção da privacidade. A iniciativa foi aprovada em dezembro.
Em setembro deste ano, os dois presidentes se cumprimentaram durante a Assembleia Geral da ONU, em Nova York. No final de outubro, o presidente americano entrou em contato com Dilma para parabenizá-la pela reeleição e disse esperar encontrá-la na reunião do G20.
Obama afirmou que valoriza a parceria com o Brasil e vê grandes oportunidades de cooperação em várias áreas, além de ter reiterado o convite para uma visita de Dilma à Casa Branca. Porém, a dois anos do fim de seu mandato, são muitos os obstáculos para que a viagem se concretize.