Simone Cavalcanti
Diante da crise econômica que assola a Espanha e boa parte dos países europeus há anos, o governo do país quer interceder para que o Brasil flexibilize algumas regras que possam agilizar a concessão de vistos de trabalho para enviar mais profissionais para suas empresas já instaladas em território verde-amarelo.
A presidente Dilma Rousseff deve receber o pedido de sua contraparte espanhola, Mariano Rajoy, durante encontro bilateral que terá ao visitar aquele país. As conversas ocorrerão, na capital Madri, após a 22- Cúpula Ibero-Americana dos Chefes de Estado e de Governo, que tem início hoje na cidade de Cádiz.
De acordo com o Ministério de Relações Exteriores (MRE), a agenda migratória está em pauta entre os dois países já há algum tempo. As negociações se intensificaram após o aumento do número de brasileiros que começaram a ser inadmitidos na imigração espanhola.
Justamente por causa do agravamento da turbulência global com efeitos nocivos sobre a taxa de desemprego na Espanha, o governo resolver ser mais criterioso com o ingresso de estrangeiros. Como não há exigência de vistos para ambos, turistas e migrantes são barrados durante o processo de entrada.
Depois que o Brasil começou a aplicar as regras de reciprocidade — com exigências aqui similares às da imigração de lá —, em abril deste ano, e com o menor fluxo de brasileiros em direção aquele país, houve uma melhora considerada significativa pelas autoridades que acompanham esse tipo de relações diplomáticas. Dados ainda não totalmente consolidados do MRE indicam que, neste ano, pode haver uma redução de 50% do número de brasileiros barrados ao querer ingressar na Espanha.
Com o crescimento da economia brasileira em um contexto de crise mundial, mas, principalmente, do vigor do mercado de trabalho que gera até falta de mão de obra, o Brasil vem sendo atrator de trabalhadores estrangeiros. "Desde 2007 houve uma reviravolta no fluxo de migração. Até aquele ano, nós é que enviávamos para fora. Agora os estrangeiros estão vindo e os brasileiros também retornando", diz o presidente do Conselho Nacional de Imigração (CNIg), Paulo Sérgio de Almeida.
Ele afirma que houve aumento na demanda por vistos temporários de profissionais espanhóis e portugueses, principalmente para a área de engenharia e áreas mais qualificadas da construção civil. "Mesmo porque o Brasil tem demandado por isso. E essas nacionalidades têm disponibilidade desses profissionais".
Segundo informações da Coordenação Geral de Imigração (CGIg), até setembro deste ano foram concedidas 1.431 autorizações temporárias de trabalho para os espanhóis, praticamente o mesmo número apurado em todo o ano de 2010. No ano passado, esse volume chegou a 1.833 concessões.
Os pedidos para trabalhar regularmente no Brasil também têm relação com o volume de investimentos que aportam no país. Em uma década, o estoque de inversões de países da península Iberica passou de US$ 21,6 bilhões para US$ 132,6 bilhões.
Os vistos temporários de trabalho valem entre seis meses e dois anos, podendo haver prorrogação por mais dois anos antes do pedido para que ele se torne permanente.