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Mudança de clima entre Brasil e EUA

A visita do presidente Barack Obama ao Brasil, que se inicia amanhã, tem pelo menos dois aspectos: o político/diplomático e o econômico/comercial. É grande a expectativa em relação ao primeiro, que diz respeito à superação da fase de tensões e desentendimentos no governo Lula, com sua política externa companheira, apoiada numa visão esquerdista antiamericana e ultrapassada.

Obama chega no 77º dia do governo Dilma Rousseff que, mesmo antes da posse, já indicara desejar uma relação mais próxima com os EUA. Nesse período de dois meses e meio, a diplomacia brasileira deu sinais de mudança de curso. A própria presidente criticou a abstenção brasileira na ONU, em 2010, num voto de condenação ao Irã na questão dos direitos humanos.

São consideráveis, portanto, as chances de melhoria das relações bilaterais, o que não quer dizer que Brasil e EUA passem a concordar em tudo. Brasília tem várias demandas em relação a Washington que continuarão válidas, como, entre outras, redução de tarifas de importação, retirada de medidas antidumping, como a sobretaxa ao etanol, o fim ou pelo menos redução dos subsídios ao setor agrícola, que afastam produtos brasileiros do maior mercado do mundo. Ao contrário do que desejaria o Brasil, Obama não deverá se pronunciar, senão genericamente, sobre o tema da reforma do Conselho de Segurança da ONU.

No aspecto econômico/comercial, é razoável esperar progressos a partir da visita. Altos funcionários da Casa Branca disseram que um dos objetivos da viagem é enfocar questões econômicas, inclusive para aplacar a preocupação dos eleitores americanos com o elevado desemprego nos EUA. A área energética deverá ser contemplada. São esperados acordos importantes, como garantia de fornecimento de petróleo pelo Brasil aos EUA, tendo em vista inclusive a produção do pré-sal. O Brasil é um fornecedor muito mais confiável do que o Oriente Médio, a Venezuela de Chávez e países africanos. Deverá ter lugar também uma reaproximação na questão do etanol – destaque da visita do presidente Bush, em 2007, mas pouco a pouco esvaziada.

Os EUA se mantêm como o principal fornecedor dos produtos importados pelo Brasil (US$27,03 bilhões em 2010). Mas as vendas brasileiras ao mercado americano não param de cair, por uma série de motivos, mas também pela postura hostil do governo Lula, no qual houve uma redução significativa na promoção comercial dos produtos brasileiros nos EUA. Como resultado disso, as relações comerciais bilaterais passaram de um saldo de US$1,79 bilhão em 2008, favorável ao Brasil, para um déficit de US$4,43 bilhões em 2009 e de US$7,73 bilhões no ano passado. A China é hoje a principal compradora no Brasil.

O clima do encontro entre Obama e Dilma Rousseff pode ser definido como otimista. Em declaração ao "Washington Post", a diretora para a América Latina do Woodrow Wilson Center, em Washington, resumiu o sentimento predominante: "Há uma atitude diferente, um desejo de uma relação muito mais pragmática com os Estados Unidos. Há a sensação de que o Brasil tem hoje uma presidente mais pragmática, menos ideológica."

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