"Vivemos numa areia movediça", alerta o jornalista e escritor moldávio Vitalie Ciobanu. "A Rússia ameaça a segurança nacional da Moldávia." O editor-chefe da revista Contrafort e presidente do PEN Clube na Moldávia não está sozinho neste ponto de vista. Após a anexação da Crimeia, no Ocidente também cresce o medo de novas reivindicações territoriais da Rússia em relação a outras regiões da antiga União Soviética.
A República da Moldávia declarou independência da União Soviética em 1991. Antes da Segunda Guerra Mundial, a maior parte de seu território era parte da Romênia − com exceção da Transnístria. A região se desligou da Moldávia no início dos anos 1990, com a ajuda da Rússia, mas internacionalmente não é reconhecida por Estado algum.
Na Transnístria, tropas russas continuam estacionadas. A região é apoiada politicamente e economicamente por Moscou, e a maioria da população é de língua russa, enquanto na Moldávia, o romeno é a língua oficial.
"As forças russas na fronteira oriental da Ucrânia são tão fortes que poderiam representar uma ameaça para a Moldávia no conflito sobre a região separatista da Transnístria", alerta o general americano Philip Breeedlove, comandante da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) na Europa.
"Considerando a crise da Crimeia e a situação tensa na região, os políticos moldávios devem negociar com o Ocidente sobre garantias de segurança para a Moldávia", diz Ciobanu à DW. "Isso não significa que nós estejamos provocando a Rússia, mas simplesmente que protegemos nossos cidadãos."
Presença militar intimidadora
Anatol Taranu, ex-embaixador da Moldávia em Moscou, não descarta uma intervenção militar da Rússia na Moldávia, lembrando que as tropas russas na Transnístria têm realizado exercícios nas últimas semanas. "Essas manobras já foram realizadas antes, mas no contexto da atual da crise na região, ganham uma dimensão adicional: a presença militar russa na Transnístria pode se tornar uma ameaça imediata para a Moldávia", aposta Taranu.
Na opinião dele, a crise na Crimeia pode facilmente se tornar um pretexto para a Rússia invadir a Moldávia. "Por exemplo, se Moscou instigar as forças separatistas na Transnístria a atacar as forças de segurança da Moldávia", especula. "Afinal, regimes separatistas aliados da Rússia como o da Transnístria são mecanismos para continuar a manter os países sob a influência russa."
A região autônoma da Gagaúzia, no sul da Moldávia, também é pró-russa. Em janeiro, a grande maioria da população votou num referendo a favor da adesão à união aduaneira fundada pela Rússia. "Especialmente por causa crise atual, a Moldávia não deve tender nem para o Ocidente nem para o Oriente", avalia Igor Dodon, presidente do Partido Socialista da Moldávia. "Uma boa solução de consenso seria a federalização da Moldávia, com Transnístria e Gagaúzia como parte da federação."
Ajuda dos EUA
Moscou afirma que não pretende intervir militarmente na Transnístria. Mas isso parece não ter aliviado o medo do expansionismo russo na região. No domingo passado (30/03), a secretária adjunta de Estado dos EUA para Assuntos Europeus, Victoria Nuland, prometeu à Moldávia 10 milhões de dólares (cerca de 7,3 milhões de euros) para proteção das fronteiras do país.
"Ao mesmo tempo, a crise na Ucrânia levou a União Europeia a ser mais aberta com relação à Moldávia", ressalta Valeriu Munteanu, deputado liberal no Parlamento moldávio. O acordo de associação com a UE será assinado mais cedo do que inicialmente previsto, provavelmente no meio deste ano.
O candidato do Partido Popular Europeu para o cargo de presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, tinha apelado, em entrevista ao jornal alemão Die Welt, que o acordo com a Moldávia já seja assinado nas próximas semanas. "Vladimir Putin deve saber que não pode fazer lá o que ele fez na Crimeia", afirmou.
Munteanu diz que Bruxelas tem perdoado muitas falhas dos políticos moldávios, devido à atual crise na região, depositando mais confiança na Moldávia. "Agora temos que provar que esta confiança é justificada", sublinha o político.
Um terço quer adesão à UE
O analista político moldávio Oazu Nantoi considera a população Moldávia dividida quanto a uma aproximação da Europa. "Cerca de um terço dos cidadãos quer a adesão da Moldávia à UE", explica o ex-deputado do Partido Democrata e diretor de pesquisas na área de conflitos do Instituto de Políticas Públicas em Chisinau. "Outro terço é pró-Rússia e está impressionado com a promessa de Moscou de gás barato. E um terço da população é indiferente a tudo, nem vai votar."
Além disso, os veículos de mídia russos, muito comuns na Moldávia, transmitem, segundo ele, uma imagem negativa da UE, como um bloco que estaria sempre "à beira do abismo". Ao mesmo tempo, muitos pastores na Moldávia que pertencem à Igreja Ortodoxa Russa espalhariam entre os fiéis a visão de que o bloco europeu traria "a decadência da moral e da família".
"Não existe aqui uma família em que pelo menos um membro não esteja trabalhando no exterior", relata o jornalista Vitalie Ciobanu. "Quando as pessoas não têm o suficiente para comer, é difícil convencê-las com discursos sobre nossas ligações com a civilização européia."
A opinião dele é de que os políticos da Moldávia têm feito muito pouco para comunicar à população os benefícios de uma aproximação da UE. O resultado de uma sondagem recente entre os cidadãos da Moldávia dá, segundo ele, motivos para reflexão: entre os políticos estrangeiros, Putin é o mais popular.