O jogo acabou para o ditador líbio, Muammar Kadafi, afirmou o secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen, em entrevista concedida ao final de uma conferência de dois dias da Aliança Atlântica em Berlim, nesta sexta-feira (15/04).
"É difícil imaginar um completo fim da violência e dos ataques na Líbia enquanto Kadafi permanecer no poder", afirmou Rasmussen em entrevista à emissora alemã Deuschlandfunk. Ele defendeu ainda uma solução política complementar às operações militares na Líbia.
A missão da Otan na Líbia divide os países-membros da aliança militar. Alguns, como a França e o Reino Unido, pedem a intensificação dos ataques. Outros, como a Bélgica e a Espanha, rejeitam essa proposta. E há ainda a Alemanha, que se absteve na votação do Conselho de Segurança da ONU sobre o mandato para a Líbia e não quer enviar soldados para lutar na guerra.
Deutsche Welle: De um lado, a França e o Reino Unido exigem mais ataques; do outro lado, a Bélgica e a Espanha são contra; e no meio, a Alemanha. Quão profunda é a cisão na Otan?
Anders Fogh Rasmussen: Bem, a aliança está unida. Tivemos um encontro de ministros do Exterior muito produtivo em Berlim, e concordamos na declaração final. Nossos comandantes militares nos asseguraram que estão fazendo todo o possível para implementar totalmente a resolução da ONU e que dispõem dos meios para tal e para e proteger civis na Líbia. Não prevejo, portanto, grandes mudanças na nossa operação.
O senhor diz que Otan está falando com uma voz no momento. Então por que ouvimos vozes francesas, britânicas e alemãs?
Se a senhora estiver se referindo à carta conjunta dos presidentes [Barack] Obama e [Nicolas] Sarkozy e do premiê [David] Cameron, essa carta é uma clara demonstração da unidade interna da aliança. Os ministros do Exterior dos países da Otan tiveram um encontro no qual concordamos com uma declaração conjunta, que está muito de acordo com essa carta dos três líderes políticos.
Na verdade, eu me referia às críticas francesa e britânica de que a Otan deve fazer mais ataques para proteger os civis na Líbia.
Tivemos um debate muito frutífero, no qual fomos informados pelos nossos comandantes militares. Penso que é consenso entre os ministros que estamos fazendo todo o possível e que já fizemos muito. Desde que assumimos o comando, nossas aeronaves já fizeram mais 2.500 voos, dos quais mais de mil foram ataques contra alvos militares importantes na Líbia. Já fizemos muito, e vamos continuar fazendo para proteger a população da Líbia.
O senhor considera satisfatória a atual estratégia da Líbia para Otan?
Sim, mas claro que queremos adaptar continuamente nossa operação à situação muito fluida em terra. E recentemente temos observado o regime Kadafi mudar de tática. Eles agora usam veículos civis, eles escondem seus tanques, seus veículos blindados e outros acessórios militares em cidades, usam escudos humanos para proteger seus recursos militares. Tudo isso dificulta nossa operação. Portanto temos que adaptá-la continuamente, considerando essa situação em evolução, também para evitar perdas entre a população civil.
Não é um problema que Kadafi saiba que não precisa temer mais do que ataques aéreos, ou seja, que ele sabe até onde a operação da Otan vai?
Sim, isso obviamente não é um segredo. Não recebemos do Conselho de Segurança nenhum mandato para a mobilização de tropas terrestres. Recebemos um mandato para proteger civis usando aeronaves e solicitaram que implementássemos uma zona de exclusão aérea, também com o uso de aeronaves, e estamos implementando um embargo de armas com o uso de aeronaves e equipamentos militares. Não é um segredo que não temos a intenção de usar tropas terrestres.
Quando e como será resolvido esse impasse militar, considerando que as tropas de Kadafi continuam avançando?
Bem, não vou me arvorar aqui a fazer suposições. Todos esperamos por uma solução o mais breve possível. Mas obviamente não há apenas uma solução militar para os problemas na Líbia. Por meio da ação militar podemos proteger a população e pressionar o regime de Kadafi, mas ao final precisamos de um processo político que leve a reformas que deem conta das demandas legítimas da população líbia.
E onde termina a solução militar e começa a solução política? O que precisa acontecer?
Ambas são complementares. Quanto maior a pressão sobre o regime Kadafi, mais estaremos facilitando uma solução política. O grupo internacional de contato que se reuniu em Doha há alguns dias afirmou claramente: o tempo de Kadafi e seu regime se esgotou. Ele tem que deixar o poder. Os ministros do Exterior da Otan endossaram claramente essa declaração. O que vemos hoje é que Kadafi está completamente isolado na comunidade internacional. A combinação de pressão militar e política vai eventualmente levar à renúncia dele.
Então o senhor diz que um cessar-fogo não é suficiente: Kadafi tem que ir?
Sim, acho que o jogo acabou para ele. É difícil imaginar um completo fim da violência e dos ataques na Líbia enquanto Kadafi permanecer no poder.
Autora: Anne Raith (as)
Revisão: Augusto Valente