Lisandra Paraguassu
O ministro brasileiro das Relações Exteriores, Antônio Patriota, colocou em dúvida, ontem, os reais motivos por trás do apoio de alguns países desenvolvidos aos rebeldes líbios que lutam contra o ditador Muamar Kadafi. Em audiência na Comissão de Relações Exteriores do Senado, Patriota questionou a possibilidade de o interesse no petróleo da região estar por trás do apoio financeiro e militar dado aos rebeldes.
O ministro analisava o risco de uma divisão territorial na Líbia como consequência da guerra civil, que já dura mais de dois meses e não parece ter um fim próximo. Patriota lembrou que a região de Benghazi, onde se concentra a resistência ao regime, sempre resistiu à autoridade de Kadafi e agora está recebendo apoio direto de vários países, especialmente de França, Grã-Bretanha e Estados Unidos. Além disso, os rebeldes foram reconhecidos como representantes oficiais da Líbia por diversos governos, entre eles Itália e França.
"Isso pode representar uma ameaça à integridade territorial da Líbia. Nos perguntamos se isso é deliberado, se é motivado por interesses puramente pacíficos e de cooperação ou se também não é uma maneira de dividir para imperar, tendo em vista as riquezas petrolíferas da Líbia, assim como se fez no passado", afirmou o chanceler.
Questionado sobre sua análise, Patriota alegou que esta não era uma visão apenas sua, mas algo que estava aparecendo na imprensa internacional e em textos de observadores na região. Disse ainda que, pessoalmente, não acredita que a Líbia terminará dividida, mas advertiu que os riscos precisam ser avaliados.
Patriota ainda criticou o fato de os países que lideram a intervenção na Líbia estarem estudando medidas de apoio aos rebeldes sem passar pelo Conselho de Segurança da ONU, como o repasse de fundos financeiros congelados da família Kadafi aos rebeldes ou a entrega de armas.
"Acredito que são questões que deveriam passar pelo Conselho. Como se pode fazer a entrega de armas aos rebeldes, por exemplo, se há um embargo contra a Líbia?", questionou.
O chanceler revelou que o Brasil mantém conversações com outros países, especialmente os membros da Liga Árabe e a União Africana – que tenta intermediar o fim do conflito – para apoiar um "mapa do caminho", que incluiria o cessar-fogo, um acompanhamento do fim das hostilidades e uma transição. Até agora pouco se avançou.
Patriota disse ainda que em sua passagem por Caracas na terça-feira, não teve contato com a missão do governo líbio recebida pelo presidente da Venezuela, Hugo Chávez.