Gilberto Scofield Jr.
Enquanto o grupo de países que formam os Brics – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – criticou a intervenção da Otan na Líbia, e pediu que o uso da força nos conflitos do Norte da África e Oriente Médio seja evitado, o comandante militar da Otan, James Stavridis, solicitou aviões mais precisos para evitar a morte de civis líbios em suas operações, que já provocaram vítimas rebeldes e civis em fogo amigo. Apesar de o chanceler britânico, William Hague, assegurar que a Aliança Atlântica nunca esteve mais unida, nenhum país se ofereceu, na reunião em Berlim, para fornecer os aviões pedidos nem para auxiliar no ataque às tropas de Kadafi – num forte indício de que a estratégia da Otan na Líbia não é consenso entre seus membros.
Desde que os Estados Unidos passaram o comando da operação à Otan, França e Reino Unido vêm fazendo críticas abertas à falta de envolvimento de outros países na ação. Dos 28 membros da Aliança, apenas 14 participam ativamente da operação – acompanhados de outros países como o Qatar, os Emirados Árabes Unidos e a Suécia. Deles, apenas seis realizam ataques contra alvos terrestres do regime. O chanceler britânico, William Hague, afirmou ter esperanças de que outros países ofereçam caças para atacar as forças do ditador, enquanto os rebeldes – sob forte ataque na cidade de Misurata – pedem uma ação mais contundente da Otan.
– Os EUA já estão dando uma grande contribuição, com o apoio logístico. É razoável pedirmos que outros países façam novas contribuições – disse Hague.
Mas numa reunião de portas fechadas, o chanceler francês, Alain Juppé, solicitou à secretária de Estado, Hillary Clinton, que os EUA contribuíssem com mais aviões para a operação. Hillary, no entanto, se mostrou resistente ao pedido.
No início da semana, o ministro da Defesa francês, Gerard Longuet, disse que apenas os aviões A-10 e AC-130, de posse exclusiva dos EUA, seriam capazes de romper o impasse militar. Apesar de terem passado o comando da operação à Otan, os EUA realizaram 35% das missões aéreas nos últimos dias, mas deixaram a responsabilidade de bombardear alvos militares e tropas de Kadafi a outros países. Oficialmente, funcionários americanos desviaram da questão, afirmando que a Otan não fez um pedido aos EUA por mais caças, e lembrando que o país já participa de diversas outras formas.
Paris e Londres vêm pressionando também, particularmente, Espanha, Itália, Holanda e Suécia para participarem de ataques às tropas de Kadafi. A Espanha já negou o pedido, e a Itália se mostra relutante.
– Tivemos sucesso no início bombardeando tanques, mas estamos encontrando problemas agora que Kadafi está movendo suas tropas para mais perto da população civil – disse uma diplomata ao "Washington Post". O desentendimento entre os membros da Aliança Atlântica – e o papel discreto desempenhado no conflito pelos EUA – parece estar comprometendo a ação da coalizão na Líbia. Diante da dificuldade de barrar as forças de Kadafi, os rebeldes pedem uma ação mais contundente da Otan. Enquanto isso, grupos como os Brics criticam a intervenção.
Num comunicado, os Bric afirmam que métodos pacíficos devem ser preferencialmente empregados na resolução do conflito, incluindo a participação de organizações locais, como a União Africana.
"Nós compartilhamos o princípio de que o uso da força deve ser evitado. Nós sustentamos que a independência, a unidade e a integridade territorial de cada nação sejam respeitadas", dizem os Brics no comunicado.
Qatar fornece mísseis a rebeldes
Com a longa disputa pelo comando da Líbia e o crescimento no número de vítimas nos combates, cresce entre os líderes dos Brics a sensação de que os esforços diplomáticos para um cessar-fogo devem ser intensificados, incluindo entre os sul-africanos, únicos do grupo que votaram a favor da zona de exclusão na Líbia.
– Mesmo o presidente Jacob Zuma se tornou um dos maiores defensores de uma solução diplomática, esforço que deveria ter sido priorizado desde o início, na opinião do Brasil – afirmou o chanceler Antonio Patriota.
Diante da indecisão da coalizão sobre a estratégia de armar os rebeldes, o Qatar foi o primeiro país a anunciar que está fornecendo mísseis franceses aos insurgentes. O governo do Qatar justificou a decisão afirmando que os insurgentes haviam sido empurrados à luta devido à situação do país, e era preciso ajudá-los a ganhar a guerra.
Paralelamente, o Reino Unido anunciou que o ex-chanceler líbio Moussa Koussa, que fugiu do país no mês passado, foi retirado da lista das sanções econômicas da União Europeia. Na prática, os bens de Koussa no exterior serão descongelados, numa tentativa de incentivar outras deserções.