A sub-secretária-geral da ONU para Assuntos Humanitários, Valerie Amos, pediu uma pausa nas hostilidades na Líbia para ajudar a aliviar a crise humanitária no país.
Em discurso feito nessa segunda-feira no Conselho de Segurança das Nações Unidas, Amos disse que Misrata, a única cidade no oeste da Líbia sob controle dos rebeldes, encontra-se em terrível estado, com falta de comida e de água potável.
Cerca de 750 mil pessoas já fugiram da Líbia desde o início dos combates entre insurgentes e as forças leais ao governo do coronel Muammar Kadafi.
Amos afirma que a combinação entre os combates e as sanções impostas pela comunidade internacional à Líbia paralisam o país.
Ela pediu ao Conselho de Segurança que garanta que todas as partes envolvidas respeitem as leis internacionais.
A sub-secretária-geral disse ainda que o uso de bombas de fragmentação, minas terrestres e submarinas e os ataques aéreos demonstram uma desconsideração insensível para com os civis.
"Desabastecimento disseminado"
Segundo Amos, o conflito armado e a interrupção das redes de suprimento estão atrasando a chegada de bens comerciais às mãos da população. Ela diz que o país tem comida suficiente apenas para alguns meses mais.
"O desabastecimento disseminado está paralisando o país de formas que irão impactar gravemente na população geral nos próximos meses, particularmente os mais pobres e mais vulneráveis", disse a sub-secretária-geral.
Amos renovou o pedido de envio de dinheiro à Líbia. Segundo ela, apenas metade dos US$ 144 milhões (R$ 231 milhões) pedidos anteriormente foi enviada ao país.
Um navio da Cruz Vermelha atracou com sucesso em Misrata nessa segunda-feira, levando equipamentos médicos, comida para bebês e componentes para montar redes elétricas e de água.
O porto tornou-se a salvação de Misrata, permitindo a saída de refugiados e a chegada de suprimentos, embora esteja sob ataque constante das forças leais a Kadafi.
Fontes médicas afirmam que pelo menos 300 pessoas foram mortas em Misrata devido aos combates.
Na última sexta-feira, um barco levando 600 refugiados naufragou logo depois de deixar o porto da capital, Trípoli. O número de mortos é incerto, mas testemunhas dizem ter visto dezenas de corpos, além de destroços e sobreviventes nadando para a costa.
A agência da ONU para refugiados (Acnur) pediu que todos os navios no Mar Mediterrâneo ofereçam ajuda aos barcos que levam pessoas do norte da África para a Europa, mesmo que muitas destas embarcações sejam clandestinas.
Pelo menos três outros barcos foram declarados desaparecidos no Mediterrâneo.
Combate em Misrata
Em Misrata, rebeldes afirmam que levaram as tropas do governo de volta para os arredores da cidade. A cidade está sob cerco das forças de Khadafi por dois meses.
Um porta-voz dos insurgentes disse à BBC que "Khadafi foi afastado de Misrata". Ele afirmou que a moral dos rebeldes estava alta e que o seu objetivo era continuar na luta.
Nesta terça-feira, a Otan realizou em Trípoli o mais pesado bombardeio em três semanas.
Relatos indicam que quatro prédios foram atingidos, incluindo o complexo ocupado pela família de Kadafi, a agência militar de inteligência e a sede da rede de TV estatal.
O governo líbio afirma que a alta comissão do país para a infância também foi atingido, deixando quatro crianças feridas por estilhaços de vidro. As alegações não podem ser verificadas de forma independente.