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Líbia – Obama comemora; Dilma não

Fernando Eichenberg
Roberto Maltchik

As principais potências saudaram ontem a morte do ditador Muamar Kadafi como o começo de uma nova etapa para o povo líbio. O presidente dos EUA, Barack Obama, comemorou a notícia como uma vitória dupla :um alerta para os regimes ditatoriais vigentes no Oriente Médio e uma confirmação de sua política de “liderança pelos bastidores”, em que os EUA não enviam soldados a campo, mas participam de ataques aéreos da Otan, a aliança militar ocidental, e compartilham a responsabilidade com países aliados. Os EUA destacaram ter investido US$ 2 bilhões na intervenção sem perder uma única vida.

— Para a região, os eventos de hoje provam mais uma vez que os regimes de mão de ferro inevitavelmente chegam ao fim — disse o presidente.

Obama definiu a morte de Kadafi como um momento histórico e anunciou para breve o fim das operações da Otan. O presidente enfatizou a responsabilidade de, a partir de agora, o povo líbio iniciar o caminho para a construção de uma sociedade tolerante e democrática:

— A sombra escura da tirania foi levantada. Esperamos ansiosamente o anúncio da libertação do país, da formação rápida de um governo interino e de uma transição estável para as primeiras eleições livres e justas. Poucos dias depois de uma visita da secretária de Estado americana, Hillary Clinton, ao país para oferecer ajuda adicional ao CNT, Obama reafirmou o compromisso de atuar como um parceiro do governo interino.

A reação americana marca o fim de uma tumultuada relação com o ditador líbio, visto como um vilão responsável pelo ataque a bomba de 1988 de um voo da PanAm sobre a Escócia, além do ataque a uma discoteca em Berlim, em 1986.

No governo brasileiro, o tom não foi de festejo. Um dos últimos países que mantêm negócios na Líbia a reconhecer formalmente o Conselho Nacional de Transição (CNT), o Brasil condenou a violência nas operações da Otan, afirmando que as sanções aprovadas pelo Conselho de Segurança da ONU foram extrapoladas de uma zona de exclusão aérea para uma ofensiva militar. Ainda assim, Dilma disse que o episódio impulsiona a oportunidade de reconstrução do país, após aqueda do regime de 42 anos, e afirmou que o Brasil buscará agir para que o trabalho se dê em um clima de paz.

— A Líbia está passando por um processo de transformação democrática. Isso não significa que a gente comemore a morte de qualquer líder que seja. O fato de estar em processo democrático é algo que todo mundo deve apoiar, incentivar. O que nós queremos é que os países tenham essa capacidade: viver em paz e democracia — disse Dilma, em Luanda.

Chávez diz que líder foi assassinado

O ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, pediu o fim imediato das operações militares no país.

—O Brasil espera que a violência na Líbia cesse, que as operações militares se encerrem e que o povo líbio siga nas suas aspirações e anseios, no espírito de diálogo e de reconstrução — disse. Entre as potências europeias que apoiaram os rebeldes desde o princípio, os discursos foram de apoio à democracia na região.

— A libertação de Sirta deve marcar o começo de um processo acordado pelo CNT para estabelecer um sistema democrático em que todos os grupos no país tenham seu lugar, e onde as liberdades fundamentais estejam garantidas — disse, em comunicado, o presidente da França, Nicolas Sarkozy. O premier britânico, David Cameron, disse que a partir da morte de Kadafi o povo líbio tem mais chances de construir um futuro democrático. O secretário-geral da ONU, Ban Kimoon, também acredita em um episódio histórico para a transição:

— O caminho a percorrer será difícil e cheio de desafios para a Líbia. Entre os ex-aliados de Kadafi poucos se dispuseram a comentar seu fim. O premier italiano, Silvio Berlusconi, recorreu ao latim para se expressar.

— Sic transit gloria mundi (Assim passa a glória do mundo) — disse ele. — A guerra acabou. O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, lamentou a morte e disse que Kadafi deve ser lembrado:

— Devemos lembrar de Kadafi por toda a nossa vida como um grande combatente, um revolucionário e um mártir. Eles o assassinaram. É outro ultraje — disse.

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