O general da Marinha dos Estados Unidos James Amos disse nesta terça-feira, em comparecimento ao Senado, que a força aérea líbia representa uma ameaça "modesta" para os esforços internacionais de criar uma zona de exclusão aérea para frear os ataques contra a população no país africano.
"Acho que é modesta (a ameaça). Acho que provavelmente a maior ameaça é seu poderio com helicópteros. Essa é a minha avaliação de longe", disse Amos. Questionado pelo senador republicano do Arizona John McCain sobre a defesa aérea da Líbia, Amos respondeu que não está "familiarizado" com seu alcance.
Amos confirmou o dado divulgado pelos relatórios de McCain de que parte do arsenal de mísseis terra-ar da Líbia são versões antigas, estilo soviético. Segundo o site Globalsecurity.org, a Líbia tem cerca de 100 mísseis antiaéreos SA-2, fabricados na década de 1950, e 70 mísseis SA-6, de fabricação moderna, além de 300 aviões de guerra, em sua maioria MIG-23 e MIG-25 produzidos na Rússia.
Vários funcionários de alta categoria da administração Obama advertiram que a criação de uma zona de exclusão aérea enfrentaria vários obstáculos, sem oferecer garantias de que alcançaria o objetivo de frear os ataques contra a população.
Paralelamente à audiência, o presidente dos EUA, Barack Obama, e o primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, mencionaram nesta terça-feira a opção de uma zona de exclusão aérea entre a gama de possibilidades para fazer pressão para a renúncia do líder líbio, Muammar Kadafi.
Os dois concordaram que o objetivo comum deve ser o "fim imediato da violência e da brutalidade, a renúncia de Kadafi o mais rápido possível e uma transição que cumpra a aspiração do povo líbio quanto à liberdade, dignidade e um Governo representativo", indicou a Casa Branca.
Líbios enfrentam repressão e desafiam Kadafi
Impulsionada pela derrocada dos presidentes da Tunísia e do Egito, a população da Líbia iniciou protestos contra o líder Muammar Kadafi, que comanda o país desde 1969. As manifestações começaram a tomar vulto no dia 17 de fevereiro, e, em poucos dias, ao menos a capital Trípoli e as cidades de Benghazi e Tobruk já haviam se tornado palco de confrontos entre manifestantes e o exército.
Os relatos vindos do país não são precisos, mas a onda de protestos nas ruas líbias já é bem mais violenta que as que derrubaram o tunisiano Ben Ali e o egípcio Mubarak. A população tem enfrentado uma dura repressão das forças armadas comandas por Kadafi. Há informações de que aeronáutica líbia teria bombardeado grupos de manifestantes em Trípoli. Estima-se que centenas de pessoas, entre manifestantes e policiais, tenham morrido. Muitas dezenas de milhares já deixaram o país.
Além da repressão, o governo líbio reagiu através dos pronunciamentos de Saif al-Islam , filho de Kadafi, que foi à TV acusar os protestos de um complô para dividir a Líbia, e do próprio Kadafi, que, também pela televisão, esbravejou durante mais de uma hora, xingando os contestadores de suas quatro décadas de governo centralizado e ameaçando-os de morte. Desde então, as aparições televisivas do líder líbio têm sido frequentes, variando de mensagens em que fala do amor da população até discursos em que promete vazar os olhos da oposição.
Não apenas o clamor das ruas, mas também a pressão política cresce contra o coronel. Internamente, um ministro líbio renunciou e pediu que as Forças Armadas se unissem à população. Vários embaixadores líbios também pediram renúncia ou, ao menos, teceram duras críticas à repressão. Além disso, o Conselho de Segurança das Nações Unidas fez reuniões emergenciais, nas quais responsabilizou Kadafi pelas mortes e indicou que a chacina na Líbia pode configurar um crime contra a humanidade. Mais recentemente, o Tribunal Penal Internacional iniciou investigações sobre as ações de Kadafi, contra quem também a Interpol emitiu um alerta internacional.