(Reuters) – O Kremlin disse nesta quinta-feira que as nações ocidentais que fornecerem armas à Ucrânia para atacar diretamente o território russo definitivamente enfrentarão consequências, depois que o presidente Vladimir Putin afirmou que estava considerando armar os inimigos do Ocidente em retaliação.
Em entrevista a editores seniores de agências de notícias internacionais em São Petersburgo na quarta-feira, o líder russo disse que Moscou estava pensando em fornecer armas avançadas de longo alcance – de natureza semelhante às que o Ocidente está dando à Ucrânia – aos adversários do Ocidente em todo o mundo.
Em seus comentários, Putin mencionou os mísseis de longo alcance que estão sendo fornecidos à Ucrânia pelos Estados Unidos e pelo Reino Unido, dando a entender que ele poderia passar a armar as forças que lutam contra seus interesses no exterior.
“Estamos pensando que, se alguém acha que é possível fornecer tais armas para uma zona de guerra a fim de atacar nosso território e criar problemas para nós, então por que não temos o direito de fornecer nossas armas da mesma classe para as regiões do mundo onde haverá ataques a instalações sensíveis dos países que estão fazendo isso com a Rússia?”, disse Putin.
“Portanto, a resposta poderia ser simétrica. Vamos pensar sobre isso.”
Os comentários de Putin levantaram a possibilidade de Moscou fornecer mísseis de longo alcance a grupos que se opõem aos interesses dos EUA e do Reino Unido em áreas de tensão como o Oriente Médio.
Quando perguntado na quinta-feira se o Kremlin indicaria países ou regiões para os quais a Rússia poderia fornecer armas dessa forma, o porta-voz de Putin, Dmitry Peskov, declarou:
“É claro que não. O presidente disse exatamente o que queria dizer, e é uma declaração muito importante e muito transparente de que o fornecimento de armas que serão disparadas contra nós não pode ficar sem consequências, e essas consequências certamente virão”.
O presidente norte-americano, Joe Biden, autorizou Kiev a lançar algumas armas fornecidas pelos EUA em alvos militares dentro da Rússia, disseram fontes à Reuters no mês passado. Washington ainda proíbe Kiev de atacar a Rússia com ATACMS, que tem um alcance de até 300 km, e outras armas de longo alcance fornecidas pelos EUA.
O secretário britânico de Relações Exteriores, David Cameron, durante uma visita a Kiev em 3 de maio, afirmou à Reuters que a Ucrânia tinha o direito de usar as armas fornecidas pelo Reino Unido para atingir alvos dentro da Rússia, e que cabia a Kiev decidir se o faria.
Dmitry Medvedev, vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia e ex-presidente, elaborou na quinta-feira sobre o que Moscou estava considerando, dizendo que as palavras de Putin representavam “uma mudança muito significativa” na política externa russa.
“Que os EUA e seus aliados sintam agora o uso direto de armas russas por terceiros. Essas pessoas ou regiões não são intencionalmente nomeadas, mas podem ser qualquer pessoa que considere o Pindostan (palavra russa depreciativa para os Estados Unidos) e seus camaradas como seus inimigos”, escreveu Medvedev em seu canal oficial do Telegram.
“Independentemente de suas crenças políticas e reconhecimento internacional. Seu inimigo são os EUA, portanto, eles são nossos amigos.”
Ele falou sobre o que chamou de “instalações sensíveis” pertencentes aos EUA e seus aliados que foram incendiadas após serem atingidas por mísseis russos disparados por “terceiros”.
“E nós nos alegraremos com seus ataques bem-sucedidos com nossas armas contra nossos inimigos comuns!”, disse Medvedev.
“Let the US and its allies now feel the direct use of Russian weapons by third parties. These people or regions are not intentionally named, but they can be anyone who considers Pindostan (a derogatory Russian word for the United States) and its comrades to be their enemies,” Medvedev wrote on his official Telegram channel.
“Regardless of your political beliefs and international recognition. Your enemy is the US, therefore they are our friends.”
He spoke about what he called “sensitive facilities” belonging to the US and its allies that were set on fire after being hit by Russian missiles fired by “third parties”.
“And we will rejoice at your successful strikes with our weapons against our common enemies!” said Medvedev.