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Kim Jong-un: de figura desconhecida a líder de potência nuclear

Kim Jong-un, terceiro filho do falecido líder norte-coreano Kim Jong-il, é o líder de um dos poucos países do mundo com capacidade nuclear. Em um tabuleiro mundial marcado por um intenso acompanhamento dos jogadores, todas as atenções estão voltadas para este homem do qual pouco se sabe e que ameaça levar a Península Coreana a um conflito atômico.

As raras informações disponíveis sobre a Coreia do Norte, que usualmente vêm da mídia estatal do país ou de veículos de informação e inteligência da Coreia do Sul, apenas tocam a superfície da biografia do jovem líder. Sabe-se que ele estudou na Suíça, que é fã de basquete e de videogames. Mas seu casamento foi descoberto apenas três anos depois de ser consumado e não há informações precisas se ele tem ou não um filho.

Nascimento alterado e fã de basquete

Os mistérios que cercam Kim Jong-un começam com a data de seu nascimento. Fruto do relacionamento de Kim Jong-Il com a dançarina japonesa Ko Young-hee (ou Ko Young-hui), a versão oficial dá conta de que ele nasceu em 8 de janeiro de 1982, mas acredita-se que ele possa ter nascido em 1983 ou 1984. A idade e o local de nascimento de Kim Jong-il também foram alterados nos registros do governo norte-coreano.
 

De sua infância, o único registro é uma foto acinzentada de quando tinha cerca de 11 anos. Sabe-se que estudou na Suíça, em colégios de língua inglesa e alemã, onde ele teria aprendido inglês, alemão e francês. Nessa época (final dos anos 1990), contudo, ele escondia suas origens e teria assumido a identidade de Pak Chol, passando-se por filho de um diplomata norte-coreano.

Colegas de classe ocidentais o descreveram como um garoto normal, tímido e apaixonado por basquete americano. Um de seus principais passatempos seria fazer desenhos do astro da NBA Michael Jordan. Outro seria o videogame. A paixão pelo basquete foi confirmada com a recente visita ao fechado país do que seria um de seus ídolos de infância, o jogador Dennis Rodman.

Ascenção militar

Quando retornou à Coreia do Norte, Kim Jong-un continuou seus estudos na Universidade Militar Kim Il-sung. Contudo, não consta que ele tenha seguido carreira dentro do Exército. Pelo menos até que sua ascensão ao posto de herdeiro do comando norte-coreano fosse cristalizada.

Filho mais novo de Kim Jong-il, acredita-se que ele tenha se tornado o favorito de seu pai após seus irmãos mais velhos caírem em desgraça. O primogênito, Kim Jong-nam, chegou a ser cotado como sucessor, mas teria perdido a simpatia do pai após, em maio de 2011, tentar entrar no Japão com um passaporte falso para visitar a Disneylândia local. O filho do meio, Kim Jong-chul  (Kim Jong-chol), teria sido descartado pelo pai por ser considerado "muito afeminado", segundo livro do japonês Kenji Fujimoto, que trabalhou como cozinheiro para a liderança norte-coreana. Tratam-se de especulações, no entanto.

O que se sabe é que Kim Jong-un começou a aparecer oficialmente ao lado do pai a partir do segundo semestre de 2010. Consta que no mesmo ano ele foi promovido ao posto de general do Exército do Povo Coreano e nomeado vice-presidente da Comissão Militar Central do país.

Quando Kim Jong-il morreu, em dezembro de 2011, a presença de Kim Jong-un à frente do funeral e carregando o caixão do pai ganhou destaque. Apesar de suas credenciais serem primordialmente dinásticas, o vazio de poder deixado pela morte de seu pai levou Kim Jong-un a rapidamente assumir os cargos mais importantes pelo falecimento. Ele logo se tornaria primeiro secretário do Partido dos Trabalhadores da Coreia, comandante supremo das Forças Armadas do país, posto de presidente do Comitê Militar Central do Partido dos Trabalhadores da Coreia (PTC), consolidando, assim, o controle total do poder na Coreia do Norte.
 

Expectativas de mudanças

A chegada ao poder do jovem líder educado no Ocidente gerou expectativas de que mudanças poderiam estar chegando à Coreia do Norte. Apesar da proximidade com o pai e o avô se estender até mesmo a seus trejeitos, Kim Jong-un logo viria apresentar diferenças, especialmente uma personalidade mais midiática. Seu pai deu apenas um discurso público nos 17 anos em que esteve à frente da Coreia do Norte, em que disse: "Vida longa ao heroico Exército coreano".

O novo líder, por sua vez, já coleciona alguns pronunciamentos públicos em seu curto mandato. Em um deles, reforçou o pensamento de que o país poderia mudar, sugerindo que promoveria reformas na agricultura e na economia do país – semelhante às vivenciadas na China no início dos anos 1990.

Na sua vida pessoal, o início de seu mandato também surpreendeu. Uma mulher, inicialmente misteriosa, passou a fazer aparições públicas ao seu lado. Posteriormente, a mídia estatal local divulgou que se tratava de Ri Sol-ju, com quem teria casado em 2009, e inclusive teria um filho. As frequentes aparições de Ri representam uma ruptura com o passado, na medida que tanto Kim Jong-il quanto Kim Il-sung não fizeram aparições públicas ao lado de suas mulheres.

Retórica belicista

Apesar das especulações de que o jovem líder poderia promover uma abertura da economia norte-coreana e uma eventual reaproximação com a comunidade internacional, a verdadeira marca dos primeiros momentos do regime de Kim Jong-un é o reforço da retórica belicista. Ela ganhou força após o país colocar em órbita um foguete em dezembro do ano passado.

Com os Estados Unidos à frente, a comunidade internacional condenou o teste e aprovou, em janeiro, uma nova rodada de sanções. O que se viu foi um reforço ainda maior do militarismo, com um teste nuclear no início de fevereiro, seguido da atual crescente escalada de tensões e movimentos que culminaram com o cancelamento, por parte do governo norte-coreano, do armistício com a Coreia do Sul e a declaração, dias mais tarde, de que o país estava em estado de guerra.

Acredita-se que este recrudescimento da política internacional norte-coreana seja parte de uma estratégia de Kim Jong-un para demonstrar força internamente.

Caracterizando-se como uma figura forte e de resistência aos inimigos, ele conquistaria a credibilidade e o respeito para manter um regime que há mais de 60 anos se baseia no culto exarcebado à personalidade de seu líder. Há também relatos de que o verdadeiro poder do país é controlado por seus tios Kim Kyong-hu, irmã de Kim Jong-il, e seu marido, Jang Song-taek.

De qualquer sorte, Kim Jong-un é o rosto do regime norte-coreano. Uma face pouco conhecida e cujas reações a comunidade internacional parece incapaz de prever.

 

 

 

 

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