Kim Jong-il, que morreu no último sábado aos 69 anos de um infarto, esteve à frente da única dinastia comunista hereditária do mundo durante 17 anos, nos quais transformou seu país em uma ameaça nuclear tão hermética quanto empobrecida.
Desde que em agosto de 2008 sofreu uma apoplexia, as aparições públicas de Kim foram contadas e nelas mostrou uma figura cada vez mais frágil e cansada, embora sempre com seus inseparáveis óculos de sol e o uniforme militar que se transformaram em sua marca registrada.
Se seu pai, Kim Il-sung, fundador da Coreia do Norte, era o "grande líder" e "presidente eterno", Kim Jong-il foi o "amado líder" dos norte-coreanos, aos quais governou com mão de ferro e um sólido aparelho de propaganda desde 1994.
Durante seu regime ditatorial, baseado na glorificação de sua pessoa e na de seu pai, o "amado líder" se consolidou como um estrategista desafiante e anacrônico que, apesar de uma economia destroçada, erigiu seu país em uma potência atômica.
Com ele, a Coreia do Norte também viveu alguns breves períodos de distensão com Coreia do Sul e Estados Unidos, mas sempre truncados por repentinos testes nucleares ou lançamentos de mísseis de um regime tão hermético quanto desafiador.
A apoplexia sofrida há três anos pelo líder norte-coreano lhe deixou sequelas visíveis e a isso se somaram o diabetes e os problemas cardíacos que supostamente também sofria.
Uma saúde delicada que, no entanto, não impediu que Kim realizasse em 2011 duas longas viagens, uma a Pequim e outra ao leste da Rússia, em seu trem blindado (evitava o avião por seu medo de voar) ambos possivelmente programados para falar com os dirigentes destes dois países sobre o processo de sucessão, segundo os analistas.
E foi justamente em um trem onde o ditador, segundo a televisão estatal norte-coreana, morreu neste sábado por causa de "fadiga física e mental".
Acredita-se que Kim Jong-il tenha nascido no dia 16 de fevereiro de 1941 na Sibéria, onde sua família se exilou durante a Segunda Guerra Mundial e em cujos registros figuraria com o nome de Yuri Ilsungyevichi Kim.
Sua biografia oficial, no entanto, afirma que foi na montanha sagrada norte-coreana de Paektu em 1942 – justo 30 anos depois do nascimento de seu pai – e que foi acompanhado de um duplo arco-íris e uma nova estrela no céu.
Após sua graduação assumiu os departamentos de cultura e propaganda do Partido dos Trabalhadores, onde foi escalando postos conforme recebia formação política.
Em 1980 foi realizado um Congresso do partido no qual Kim foi designado oficialmente o sucessor de seu pai e membro do Comitê Central e do Comitê Militar da formação.
Mas o primeiro posto de poder real lhe chegaria em 1991, quando assumiu as Forças Armadas como Comandante Supremo.
Três anos mais tarde, em julho de 1994, seu pai faleceu e ele se transformou no novo líder dos norte-coreanos, embora formalmente todos os poderes do país stalinista foram assumidos após outros três anos de luto confuciano.
Considerado impaciente e excêntrico, amante da boa mesa e do álcool, Kim Jong-il também ganhou fama de mulherengo, embora sua vida particular tenha transcorrido envolvida em mistério.
Segundo um livro publicado em 2003 pelo que foi um de seus cozinheiros, o japonês Kenji Fujimoto, o líder norte-coreano organizava grandes banquetes e extravagantes festas nas quais não faltavam sushi, caviar e álcool de sua adega, de perto de 10.000 garrafas.
Kim também foi um reconhecido amante do cinema e conta, segundo várias de suas biografias, com uma enorme videoteca com milhares de filmes de ação e espionagem.
O líder norte-coreano teve três filhos homens e pelo menos quatro filhas de mulheres diferentes. Seu primogênito, Kim Jong-nam, é filho da atriz Sung Hye-rim, enquanto a mãe de seus outros dois filhos, Kim Jong-chol e Kim Jong-un, é a dançarina Ko Young-hi.
O jovem Kim Jong-un, de cuja vida não se sabe praticamente nada, desponta como o sucessor de seu pai, depois que o primogênito caiu em desgraça após ser detido no Japão quando tentava entrar com um passaporte falso para visitar o parque Disneylândia de Tóquio.
Kim Jong-un, que se acredita que tenha 29 anos, parece ter sido chamado para se transformar na terceira geração a liderar o isolado regime comunista da Coreia do Norte.