O governo brasileiro avalia a situação na península coreana para decidir sobre a transferência de seus funcionários da embaixada em Pyongyang, depois que a Coreia do Norte notificou nesta sexta-feira todas as representações diplomáticas a deixar o país diante do risco de uma guerra na região.
O pedido norte-coreano foi feito em meio à movimentação militar dos Estados Unidos na Coreia do Sul, após a Coreia do Norte advertir que a guerra era inevitável, em decorrência de novas sanções impostas pela Organização das Nações Unidas (ONU)por seus testes nucleares.
"Avaliaremos quais são as condições exatamente antes de tomarmos uma decisão sobre a permanência dele (embaixador brasileiro, Roberto Colin) ou alguma outra a alternativa, em contato também com outras embaixadas em Pyongyang", afirmou nesta sexta o chanceler Antonio Patriota em entrevista coletiva conjunta, em Brasília, com o ministro dos Negócios Estrangeiros de Cingapura, K Shanmugam.
O Itamaraty afirmou que seis brasileiros vivem atualmente na Coreia do Norte, incluindo o embaixador, sua mulher e filho, um funcionário administrativo, além da mulher e filha do embaixador da Palestina, que são brasileiras.
"Seguimos com preocupação essa escalada retórica na península coreana e estamos em permanente contato com o nosso embaixador", disse Patriota.
Nos termos da Convenção de Viena, que rege as missões diplomáticas, os governos anfitriões devem facilitar a saída do pessoal de embaixadas em caso de conflito.
Transferir os funcionários não implica o fechamento da embaixada, esclareceu o Itamaraty, o que teria um significado político e diplomático mais amplo.
"Nesse caso a gente pode considerar a preservação da segurança dos funcionários levando-os para outro lugar. Não é o rompimento das relações diplomáticas Brasil-Coreia do Norte", disse a assessoria de imprensa do Itamaraty.
De acordo com a assessoria, o embaixador brasileiro teria indicado que existe a possibilidade de levar o corpo diplomático para Dandong, uma cidade chinesa próxima, na fronteira com a Coreia do Norte.
Além da possibilidade de retirada para a vizinha China, a assessoria afirmou ainda que a Embaixada do Brasil em Pyongyang tem um abrigo subterrâneo e um gerador próprio.
A primeira embaixada brasileira em Pyongyang foi aberta em 2009 sob a chefia do embaixador Arnaldo Carrilho, embora o Brasil e a Coreia do Norte já tivessem relações diplomáticas antes disso.
Em entrevista à Reuters em 2010, Carrilho afirmou que o objetivo central do Brasil era "a abertura de diálogo em todos os sentidos, inclusive no que se refira à questão nuclear e ao estágio permanente de guerra do Exército Popular."
As Coreias do Sul e do Norte permanecem tecnicamente em guerra desde 1953, quando uma trégua informal pôs fim à Guerra da Coreia, que tirou a vida de quase 3 milhões de pessoas.
(Reportagem de Bruno Marfinati)