A Itália convocou para consultas seu embaixador em Brasília, Gherardo La Francesca, depois da decisão de quarta-feira do Supremo Tribunal Federal (STF) de libertar o ex-ativista de esquerda italiano Cesare Battisti, contrariando o desejo de Roma de que ele fosse extraditado pelo suposto envolvimento em quatro assassinatos, anunciou nesta sexta-feira a chancelaria italiana. A decisão do STF, por 6 votos a 3, considerou que a Itália nao poderia questionar decisão soberana do então presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva.
Essa medida foi tomada para "aprofundar, conjuntamente com as autoridades competentes, os aspectos técnicos e jurídicos relacionados com a aplicação de acordos bilaterais existentes, visando a iniciativas e recursos ante as instâncias judiciais internacionais", acrescentou. A Itália manifestou na quinta-feira indignação e revolta com a decisão do Brasil e anunciou que apresentará um recurso à Corte Internacional de Justiça de Haia.
O primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, expressou "grande desgosto" com a decisão do STF a favor da libertação de Battisti. "Não se leva em consideração a expectativa legítima de que se faça justiça, em particular para as famílias das vítimas de Battisti", lamentou Berlusconi em um comunicado oficial.
O presidente da Itália, Giorgio Napolitano, também condenou a decisão do Brasil e anunciou que apoiará qualquer recurso de Roma para tentar reverter a situação. A decisão do STF "prejudica gravemente" os acordos assinados entre Itália e Brasil, afirmou Napolitano em um comunicado. A Itália exigia a extradição de Battisti para que cumprisse a condenação à prisão perpétua por suposta participação em quatro assassinatos cometidos na década de 70, nos chamados "anos de chumbo", quando era integrante de um grupo armado de ultraesquerda.
O "caso Battisti" se arrastava nos tribunais brasileiros desde que o italiano foi detido no Rio de Janeiro em março de 2007. Battisti passou a maior parte dos últimos quatro anos na penitenciária da Papuda, a 25 km do centro de Brasília, de onde foi libertado na madrugada de quinta-feira. Battisti é reclamado pela Itália depois de ter sido condenado em 1993, à revelia, à prisão perpétua por quatro assassinatos e cumplicidade de assassinato, crimes dos quais se declara inocente. A batalha da Itália para que Battisti cumpra a condenação não acaba com a decisão do STF, já que o país espera levar o caso ao órgão judicial da ONU, por considerar que foram violados os acordos entre os dois países.