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Israel – Irã: A guerra invisível

Dois sujeitos de capacete preto irromperam sobre uma moto em uma rua no norte de Teerã na manhã de quarta-feira passada. Um deles colou, como se fosse um ímã de geladeira, um pacote do tamanho de um estojo na parte de baixo de um Peugeot 405 em movimento. Assim que a dupla virou a esquina, a bomba feita com material plástico foi acionada por controle remoto.

O corpo do passageiro, ainda dentro do automóvel, com o rosto coberto por um pano branco, foi mostrado pelos canais de televisão iranianos e identificado como sendo de Mostafa Ahmadi Roshan, de 32 anos. O motorista também morreu. Graduado em engenharia química, Roshan era diretor da usina de enriquecimento de urânio de Natanz, onde 10000 centrífugas subterrâneas produzem o combustível da primeira bomba nuclear iraniana. O Irã acusou os Estados Unidos e Israel pelas mortes, o que não quer dizer nada, considerando-se a disposição dos aiatolás para culpar por tudo os “ianques e sionistas”. Desta vez, porém, podem estar certos.

Os americanos negaram qualquer envolvimento. Já o governo israelense nem se dignou a responder, e não faltam indícios de que seus agentes realmente estejam por trás do assassinato. Primeiro, porque os israelenses são os que mais têm a temer uma bomba atômica nas mãos do Irã, que sempre quis a destruição do estado judeu.

Segundo, porque militares israelenses vêm falando de ações clandestinas há meses. No ano passado, o ministro de Inteligência e Energia Atômica, Dan Meridor, disse: “Há países que impõem sanções econômicas, e há países que agem de outras maneiras”. Ou seja, os Estados Unidos se enquadram no primeiro grupo, e Israel, no segundo. Terceiro, as características do assassinato de Roshan coincidem com o modus operandi do Mossad, o serviço secreto israelense.

Nos últimos dois anos, cinco especialistas do programa nuclear iraniano foram atacados em circunstâncias misteriosas. Apenas um escapou. Dois deles sofreram atentados com bombas magnéticas coladas na lataria do carro, como a que vitimou Roshan. Atribuem-se também a Israel ataques cibernéticos contra usinas do Irã. Há dois anos, um vírus de computador, o Stuxnet, infectou as máquinas de Natanz e aumentou a velocidade das centrífugas, destruindo o motor de 1000 delas.

O Mossad começou a praticar assassinatos seletivos de inimigos no exterior na década de 70. Em 1979, foram eliminados os terroristas que mataram atletas israelenses na Olimpíada de Munique. Nas décadas seguintes, o Mossad passou a assassinar integrantes de grupos terroristas palestinos. Em 2010, Mahmoud al-Mabhouh, do grupo palestino Hamas, foi morto em um quarto de hotel em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.

As câmeras de vigilância do hotel, de shopping centers e do aeroporto ajudaram a registrar o envolvimento de 27 espiões no complô. Se em um emirado com boas relações com o Ocidente foi necessária tal estrutura para matar um terrorista, dá para imaginar quão complexa tem de ser uma operação para infiltrar agentes em um país hostil como o Irã. O jornal francês Le Figaro, citando fontes de Bagdá, afirmou na semana passada que o Mossad está recrutando e treinando dissidentes iranianos na região do Curdistão, no Iraque. Esses exilados estariam sendo usados para promover os assassinatos seletivos no Irã.

O país alega que seu programa nuclear tem fins pacíficos, contra todas as evidências. Estima-se que a bomba iraniana deve ficar pronta em um ano. Entende-se, portanto, que os israelenses considerem recorrer a todos os meios possíveis para impedir esse desastre para a segurança mundial. Bombardear as instalações nucleares teria um péssimo impacto na opinião pública iraniana, fortalecendo a teocracia dos aiatolás.

Já as operações clandestinas têm a vantagem de atrasar os planos iranianos, enquanto se tenta freá-los com pressões diplomáticas e sanções econômicas. Ainda neste mês, a União Europeia votará um embargo ao petróleo iraniano. O Japão avisou que pretende fazer o mesmo. Espera-se que o crescente isolamento leve o Irã a repensar seus planos nucleares, pois o assassinato de cientistas, em si, não será capaz de fazê-lo.

“As universidades iranianas não terão dificuldade em repor tantos físicos nucleares quantos forem mortos”, diz o americano William Tobey, especialista em proliferação nuclear da Universidade Harvard. Na semana passada, o presidente Mahmoud Ahmadinejad, em visita à Venezuela, disse que não voltará atrás nos planos nucleares, poucos dias após revelar-se que o Irã está enriquecendo urânio a 20% nas instalações subterrâneas de Fordo, cercadas por baterias de mísseis antiaéreos.

Trata-se de um grau de enriquecimento acima do necessário para gerar energia. Ao lado do presidente venezuelano Hugo Chávez, Ahmadinejad disse que, se o Irã tivesse uma bomba, seu combustível seria o amor. Estranho amor.

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