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Israel – Brasileiros no meio do conflito

Roberta Machado


Mesmo convivendo com sirenes antiaéreas e com explosões, os brasileiros que vivem no Oriente Médio escolheram permanecer em casa e aguardar o perigo passar. De acordo com o Itamaraty, quase mil dos 10 mil cidadãos que residem em Israel correm perigo por morarem em cidades e em kibbutzim (comunidades baseadas na agricultura) localizados na região sul de Israel, onde os ataques são mais constantes. A Embaixada do Brasil em Tel Aviv ofereceu um albergue para os que precisassem deixar suas residências, mas até ontem ninguém havia se mudado para o abrigo.

O Itamaraty também informou que nenhum brasileiro recorreu à repatriação para retornar ao Brasil, e que não existe qualquer tipo de retirada planejada. Nenhum alerta com relação ao turismo foi emitido. A representação diplomática tem mantido contato com lideranças das comunidades locais em Israel e orientado os moradores e visitantes sobre como se comportar em caso de um ataque.

A maioria das casas em Israel é equipada com um "quarto seguro", que serve como abrigo antibomba. O cômodo não possui janelas e fica virado para o norte, a fim de evitar os foguetes enviados do sul. As pessoas que não contam com a proteção pessoal ou que estiverem na rua podem recorrer também aos bunkers públicos, sempre que ouvirem a sirene de alerta. Informativos são transmitidos com frequência pelas redes de rádio e de tevê, ensinando como se portar em caso de perigo. A orientação repassada aos moradores é de que devem aguardar cinco minutos depois de ouvirem a explosão, para só depois voltarem para a rua. A medida procura protegê-los de estilhaços dos mísseis.

Outra recomendação é procurar as escadas de um prédio como proteção durante os alertas, caso um bunker esteja indisponível. A fisioterapeuta Cláudia Dicker, 29 anos, contou ao Correio que as orientações ajudam, mas nem sempre é possível abrigar a todos. "As pessoas olham umas para as outras e não sabem para aonde ir. Nos escondemos abaixados com as mãos na cabeça", contou a paulistana, que mora em Tel Aviv. "No hospital onde trabalho, temos abrigos e escadas, mas não conseguimos levar todo mundo, como os pacientes que estão acamados. A guerra psicológica começa aí", lamentou.

Rotina alterada

Moradora de Israel há quase sete anos, a gaúcha Ticiana Scharcanski de Faria, 30 anos, ainda não ouviu o soar das sirenes, mas teve a rotina alterada pela intensificação dos ataques do Hamas. Os passeios de carro se tornaram um problema, e a festa de 1 ano do filho, David, teve de ser cancelada. Os contatos com os amigos e familiares no Brasil ficaram mais constantes. "Como eu sei que não estou perto da guerra, me sinto mais segura. Mas isso é porque ainda não escutei a sirene. Meu marido está voltando agora da aula em Tel Aviv, e já escutou dois alarmes", preocupou-se Ticiana. A comunidade Hulda, onde vive a bióloga, é vizinha de uma base aérea situada ao sul de Tel Aviv. Todos os dias ela ouve e vê os foguetes palestinos serem destruídos pelo sistema de defesa Domo de Ferro. "Já conversamos que, se houver guerra, eu vou para o Brasil com o David."

Uma grande família

"Tenho medo de dormir à noite e de não escutar a sirene, de não poder ajudar as pessoas, mas não voltaria agora para o Brasil. Hoje prefiro ficar aqui, tenho muitos amigos, e preferiria ir para a casa de um amigo que morasse no norte de Israel a procurar um albergue. É impressionante como os brasileiros formam uma grande família em tempo de guerra. Todos mandam mensagem sempre que ouvem uma sirene, e mando notícia para o Brasil várias vezes ao dia"

Cláudia Dicker, 29 anos, é fisioterapeuta paulistana e moradora de Tel Aviv.

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