James Reynolds
"No Irã, nós não temos homossexuais como vocês têm em seu país. No Irã, nós não temos esse fenômeno." disse o então presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad em Nova York, em setembro de 2007.
"Eu gostaria de dizer ao povo americano: eu trago paz e amizade dos iranianos para os americanos." disse o atual presidente Hassan Rouhani, também em Nova York, em setembro deste ano.
O tom do presidente Rouhani em Nova York foi surpreendentemente diferente do de seu predecessor. Durante sua viagem anual aos Estados Unidos para o encontro da Assembleia Geral da ONU, Mahmoud Ahmadinejad apreciava incitar, provocar e tentar (sem sucesso) converter sua audiência à sua maneira de pensar.
Em contraste, Hassan Rouhani, usou sua primeira viagem a Nova York para se envolver delicadamente com um velho inimigo, e colocou em prática uma estrutura para as negociações sobre o programa nuclear iraniano. Mas ele também não quis quebrar três décadas de tradição na República Islâmica – e se recusou a encontrar com o presidente americano, Barack Obama.
As ações de Hassan Rouhani em Nova York mostram um homem que lida com a inerente, esmagadora contradição de seu trabalho: ele tem um mandato popular, sem poder real.
Em junho, o eleitorado do Irã unanimemente aprovou a sua promessa de engajamento e moderação. Mas a presidência do Irã dá à Rouhani muito pouco poder formal para cumprir sua promessa.
No Irã, o poder do presidente é ofuscado pelo líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei. A seção 1, do artigo 110 da Constituição estabelece que o líder supremo tem a responsabilidade de "Delineação das políticas gerais da República Islâmica do Irã, após consulta com o Conselho de Exigência da Nação."
Por mais de três décadas, essas políticas gerais incluíram ódio dos Estados Unidos. O novo presidente do Irã não pode alterar esta política por conta própria. Hassan Rouhani conhece a regra fundamental da política iraniana – se há discordância entre o líder supremo e o presidente, o líder supremo sempre vence.
Amigo de confiança
De 1997 a 2005, o presidente reformista Mohammad Khatami tentou trazer mudanças – mas ele não conseguiu convencer o líder supremo de que essas mudanças valiam a pena. Assim, a decisão do líder supremo prevaleceu, e as reformas de Khatami falharam.
Hassan Rouhani optou por evitar cometer o mesmo erro. Ele está optando trabalhar em estreita aliança com o aiatolá. O fato dos dois homens se conhecerem há décadas ajuda – eles são da mesma geração fundadora da Rapública Islâmica, que derrubou o Xá em 1979.
A chave para toda a presidência de Rouhani será sua capacidade de persuadir o aiatolá, e seus aliados na Guarda Revolucionária, a dar-lhe espaço suficiente para explorar a diplomacia. A questão não é se o presidente do Irã deseja mudança, mas sim se este é um desejo do líder supremo.
Durante os últimos 24 anos, o aiatolá suprimiu todos as críticas à natureza conservadora da República Islâmica. Em 2009, suas forças acabaram com as manifestações lideradas pelos partidários do Movimento Verde de oposição. No início deste ano, os aliados de Ali Khamenei no Conselho dos Guardiães desclassificaram da eleição presidencial um número de candidatos que não eram vistos como partidários de confiança.
Mas o aiatolá permitiu que Hassan Rouhani se candidatasse. Pode ser que, aos 74 anos, Ali Khamenei confie em seu velho amigo para trazer uma mudança limitada, sem ameaçar a natureza da república. Assim, o líder supremo endossou de forma limitada o desejo de seu presidente de buscar a diplomacia.
Em um discurso proferido no dia 17 de setembro, em Teerã, Ali Khamenei aprovou o uso de "flexibilidade heróica" na diplomacia. O que pode ser traduzido como uma instrução ao presidente Rouhani que diz: veja o que você pode conseguir dos americanos, mas não saia por aí apertando a mão do presidente Obama.
A aprovação do aiatolá à busca por diplomacia em Nova York resultou nas primeiras negociações diretas sustentadas entre os Estados Unidos e o Irã, com participação de seus ministros das Relações Exteriores, em mais de 30 anos.
'Parar, fechar, enviar'
Contatos diretos entre os dois países continuarão em Genebra, em 15 e 16 de outubro, quando o Irã e os Estados Unidos se juntaram ao Reino Unido, China, França, Rússia e Alemanha para uma ronda formal de negociações sobre o programa nuclear da República Islâmica.
Em rodadas anteriores de negociações, as potências mundiais fizeram três exigências ao Irã: parar o enriquecimento de urânio, fechar as instalações de enriquecimento fortificada em Fordo, e exportar sua oferta de baixo e médio urânio enriquecido (uma demanda conhecida como "parar , fechar, enviar").
O Irã rejeitou essas demandas. Em vez disso, ele quer que as sanções sejam levantadas – e que o direito da República Islâmica de enriquecer urânio seja reconhecido.
Ainda não está claro se essas exigências e contra-exigências serão ou não o ponto de partida para a nova rodada de negociações em Genebra em outubro. Mas é claro que as negociações reiniciam em um ambiente melhor.
Rodadas anteriores (eu assisti a todas as sete nos últimos três anos) eram muitas vezes monólogos paralelos com pouca negociação real.
Desta vez, todos os lados parecem estar mais dispostos a dar e receber. Eles conseguiram até evitar o comum argumento sobre onde eles devem se encontrar.
Negociações anteriores foram adiadas porque o Irã não aceitava que as reuniões acontecessem em Genebra. Como resultado, as negociações fizeram uma turnê mundial não oficial por Istambul, Bagdá, Moscou e Almaty.
O ministro das Relações Exteriores, Mohammad Javad Zarif, representará o Irã nas negociações. Zarif vai se reportar diretamente ao presidente Rouhani, que, por sua vez, apresentará um relatório ao líder supremo.
Hassan Rouhani pode ser capaz de recomendar um acordo, e de explicar como as concessões são a melhor maneira de ter as sanções levantadas, e melhorar a vida do povo iraniano. Mas, no final, é o líder supremo que terá a palavra final.