DE SÃO PAULO
O governo do Irã negou ontem ter criticado a presidente Dilma Rousseff pela opção de dar menos ênfase à relação com Teerã.
As críticas haviam sido feitas pelo porta-voz do presidente Mahmoud Ahmadinejad, Ali Akbar Javanfekr, em entrevista publicada na segunda-feira pela Folha. O jornal mantém as informações.
Citado pela agência estatal de notícias Irna, chefiada por ele, Javanfekr alega que suas declarações foram "distorcidas". Ele afirma ter dito à Folha que Dilma "precisava de tempo para consolidar as relações entre Teerã e Brasília". Diz ainda que elogiou "o governo e o povo do Brasil pelo apoio à República Islâmica".
A nota da Irna diz ainda que o Brasil "insiste em manter um diálogo diplomático com Teerã sobre o programa nuclear da República Islâmica, política que começou com o antigo presidente Luiz Ignacio Lula da Silva (sic)".
O texto lembra que o "New York Times" repercutiu a fala de Javanfekr à Folha.
Ramin Mehmanparast, porta-voz da Chancelaria iraniana, também se pronunciou sobre a reportagem da Folha. Citado pela agência Fars, ligada ao governo, ele atribuiu o mal-estar causado pelas declarações a "propaganda de mídia para manchar as relações [bilaterais]".
Mehmanparast insistiu em que não há nenhuma mudança na maneira de o Irã enxergar o Brasil e afirmou que Teerã atribui "grande importância" à relação com Brasília.
A reportagem trazia trechos de uma entrevista feita ao celular com Javanfekr, em espanhol, na qual ele disse que "a presidente brasileira golpeou tudo o que Lula havia feito" e "destruiu anos de bom relacionamento".
"Lula está fazendo muita falta", disse então o porta-voz, em referência às gestões para aliviar a pressão sobre Teerã em matéria de direitos humanos e diálogo nuclear.
A conversa durou cerca de dez minutos e abordou também as complicações jurídicas de Javanfekr, que acaba de recorrer de uma pena de um ano de cadeia por suposta ofensa ao líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei.
Além das declarações do porta-voz, a reportagem da Folha informava que carregamentos de carne brasileira exportada ao Irã estavam sendo retidos em porto iraniano sem justificativa aparente.
O bloqueio foi atribuído por importadores iranianos e empresários brasileiros a uma retaliação comercial do Irã contra a diplomacia de Dilma Rousseff.