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Irã: Ahmadinejad nega insubmissão ao aiatolá Khamenei

O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, negou nesta quarta-feira no Parlamento ter demonstrado insubmissão ao líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei, que no ano passado restituiu o ministro de Inteligência a seu posto depois de ter sido demitido pelo governante.

No interrogatório desta terça, o primeiro a convocar um presidente nos 33 anos de história do país, um grupo de deputados ultraconservadores que se opõem a Ahmadinejad o questionou sobre supostas irregularidades em seu governo e sua hipotética insubmissão ao poder religioso no regime teocrático.

O deputado Ali Motahari, um ultraconservador islâmico que é feroz oponente de Ahmadinejad, leu as dez perguntas que o presidente deveria responder e pelas quais pode receber uma moção de censura caso seus argumentos não convençam a Câmara.

Os deputados perguntaram sobre os 11 dias nos quais Ahmadinejad ficou ausente da vida pública, entre abril e maio do ano passado, o que foi entendido como uma ousadia após uma disputa pelo poder com Khamenei, máxima autoridade do país, que o advertiu para não superestimar suas capacidades.

Ahmadinejad respondeu que não ficou inativo: "Nesses 11 dias não fiquei descansando, fiquei trabalhando, pois isso (deixar a função pública) não é possível para o governo".

O estopim da crise foi o confronto de Ahmadinejad com o ministro de Inteligência, Heydar Moslehi, um clérigo xiita ultraconservador próximo a Khamenei, que o presidente demitiu e o aiatolá restituiu a seu posto.

Os ultraconservadores "principalistas", que dominam o Parlamento e que no início da legislatura apoiaram Ahmadinejad, se tornaram seus maiores inimigos, pois consideram que ele e seus aliados põem em questão o controle político e social pelo poder religioso, personificado no líder supremo.

Ahmadinejad voltou a defender nesta quarta-feira que o sistema "não deve pressionar tanto as meninas e os meninos, pois são nossos próprios filhos", em referência ao estrito código de vestuário e a obrigação de cobrir a cabeça imposta às mulheres, além da perseguição de festas e reuniões juvenis.

Por meio de um conhecido poema, Ahmadinejad disse aos deputados, e por extensão ao poder clerical, que eles não fazem dentro de suas casas o que pedem que os demais façam. "Os que predicam no púlpito, quando sabem que não são vistos no deserto, fazem o mesmo que os demais", recitou o presidente.

O chefe de governo defendeu a eliminação de subsídios devido às "sanções (internacionais que pesam sobre o Irã) e a crise mundial" e indicou que favoreceram a economia do país e especialmente o setor produtivo essencial, que cresceu em uma situação difícil, apesar das fortes altas de preços.

Apesar da retirada dos subsídios dos setores energético e de alimentos básicos em março do ano passado, o que provocou a multiplicação do preço, Ahmadinejad garantiu que o país cresceu mais no último ano iraniano, que terminará em 20 de março, do que no ano anterior.

Sobre a escassez de meios e divisas para o desenvolvimento de cidades grandes, que os deputados atribuem ao governo, o presidente contestou que em seu mandato intensificou a ajuda para setores como o transporte, tanto ônibus como o metrô de Teerã, e a construção.

Em alguns momentos, o interrogatório de Ahmadinejad se tornou tenso, especialmente quando um deputado, Mohammed Khabbaz, o acusou de "insultar o Parlamento", ao responder em tom aparentemente jocoso algumas das perguntas.

A luta pelo poder entre Ahmadinejad e Khamenei, que veio à público em abril do ano passado, se espalhou claramente pelo setor mais clerical, que se agrupa em torno do líder, nas legislativas de 2 de março. Esta correlação de forças poderia ocasionar em graves dificuldades para Ahmadinejad no ano e meio que lhe resta na presidência, para a qual não pode ser reeleito ao ter completado dois mandatos de quatro anos.

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