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Imperialismo turco 2.0

Mário Sommossa

"A Turquia não deve cair, como já aconteceu no passado, no erro de se retirar da área circundante em favor da atratividade da Europa Ocidental e da aliança internacional. A Turquia, que não é capaz de INFLUENCIAR a situação nos Bálcãs, no Cáucaso e do Oriente Médio, não será capaz nem de manter sua própria integridade num espaço geopolítico tão delicado, nem se abrir ao mundo".

"Devemos tentar implementar, com o apoio de acordos bilaterais e multilaterais, o plano de DESLOCAMENTO MÁXIMO PARA O OESTE, ao nível dos Bálcãs, da linha de segurança estabelecida em Trácia do Leste na era da Guerra Fria".

"O Cáucaso no mapa da hidrovia do Mar Negro para o Danúbio é um dos pilares da estratégia dos Bálcãs, da estratégia dos estreitos da estratégia euro-asiática [da Turquia] em geral".

O que é isto, declarações de um extremista ou nacionalista turco?

Talvez. Mas também palavras exatas do professor Ahmet Davutoglu, atual ministro das Relações Exteriores e inspirador da política externa turca, em seu livro de 2001 Profundidade estratégica. A situação internacional da Turquia. Claro, o altamente educado professor considera também muitas outras questões, incluindo a tese muitas vezes repetida "Não há problemas com os vizinhos". Mas isso não impede que, de fato, seja declaradas como objetivo desejado as aspirações expansionistas da República Turca o reavivadas e muito claramente expressas. E não se pode negar que o que no livro foi sugerido como uma hipótese, é agora a pedra angular das ações da Turquia na arena internacional.

Claro, ninguém nega o direito de qualquer estado de desenvolver a sua própria política externa ou a lutar pela conquista de uma posição dominante na região que considera de seu interesse. Mas, então, todos nós temos que avaliar as perspectivas.

Infelizmente, apesar de alguns cientistas norte-americanos e europeus o terem feito, os governos dos EUA e da Europa, guiados por interesses de curto prazo, fingem não ver ou subestimar o cenário do ministro Davutoglu. As capitais europeias continuam a ceder à Turquia, e algumas até mesmo prometem-lhe uma irreal adesão à União Europeia. Porque, como elas dizem, a Turquia, graças ao seu moderado islamismo, é uma ponte indispensável entre o mundo cristão e islâmico, entre a Europa democrática e países do Oriente Médio mais ou menos sujeitos à influência da Primavera árabe. A aposta é também no papel de Ancara como um contrapeso que o desejo de hegemonia turco é para as mesmas aspirações iranianas.

Em outras palavras, todos fingem não perceber a fina insolência turca nos Bálcãs, em troca de uma oportunidade ilusória de voltar no futuro ao Oriente Médio. E os EUA, em benefício dos europeus, fazem vista grossa à insubordinação de Ancara na esperança de utilizar a Turquia para, em primeiro lugar, por fim à expansão do Irã, e em segundo lugar, pisar mais adicionalmente o pé à Rússia.

Além disso, apesar do Kremlin perceber bem claro o papel dos turcos nos tumultos no Cáucaso e na Ásia Central, ele permite a empresas turcas ganhar cada vez mais influência na economia da Rússia. Na realidade, foram as empresas turcas que se tornaram na Rússia em grandes grupos de companhias. Elas trabalham tanto nas maiores cidades russas, como nas repúblicas do Cáucaso, onde bilhões de rublos que Moscou investe na esperança de sua pacificação são usados para grandes projetos de construção.

Alguém pensou em que se pode transformar a atual influência política da Europa e do Ocidente, quando a Turquia se tornar o maior nó de gás e petróleo pelo qual passam fornecimentos de energia para a Europa? Alguém raciocinou as consequências linguísticas, políticas e culturais da presença em massa de empresas e capitais da Turquia para os países da antiga Porta Otomana e países pró-turcos? Se tudo o que escreveu Davutoglu é o projeto político de Ancara, podemos ter certeza de que tudo o que está sendo feito agora será limitado ao avanço puramente econômico de Ancara na região?

Claro, Erdogan não tem atualmente nenhuma intenção de romper as relações políticas e militares com a OTAN. Tanto mais que a proximidade com a Rússia, um rival no Cáucaso, faz essas ligações benéficas para Ancara. Não é por acaso que o professor afirmou repetidamente que a sua estratégia em nenhum caso deve ser vista como incompatível ou conflitante com o Ocidente, e especialmente com a Europa. Mas também é verdade que a Turquia "moderna" que ele implica é um novo, moderno Império Otomano que pode, por um lado, ser um "grande defensor" do no Oriente Médio árabe, e por outro – recuperar a sua própria dimensão "balcânica" e "central-asiática".

Se esta análise não está preocupando nenhum político, tanto melhor ou pior para todos. Se não for assim, pode ser que tenhamos que voltar a esta conversa.

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