João Fellet
"Promoveremos a construção de hidrelétricas, fortalecendo a Eletroperu e as empresas elétricas estatais regionais e promovendo as privadas, em um adequado balanço que outorgue prioridade à demanda nacional", afirmou.
Em junho, o Peru cancelou a licença provisória de um consórcio brasileiro para a construção da usina hidrelétrica de Inambari, no sul do país.
A usina faz parte de acordo assinado em 2008 pelos então presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Alan García, antecessores de Dilma Rousseff e de Humala, que prevê a construção de ao menos seis hidrelétricas na Amazônia peruana.
As usinas, que custariam US$ 15 bilhões (cerca de R$ 23 bilhões), teriam como principal cliente o mercado brasileiro e seriam erguidas por empreiteiras brasileiras, com assessoria técnica da Eletrobrás, estatal brasileira do setor elétrico.
'Guardião da democracia'
Em seu discurso, Humala seguiu o tom de sua campanha, em que procurou afastar-se da imagem do presidente venezuelano, Hugo Chávez, e adotar um discurso mais próximo do de Lula.
"Eu jurei pela democracia, e assim será. Ratifico esse juramento, sou um zeloso guardião do Estado de Direito e um defensor da liberdade de imprensa e de expressão. Sou um soldado desta democracia", afirmou.
No entanto, o presidente que pretende impor uma "nova relação entre o Estado e o mercado" em seu governo.
"O Estado será o garantidor dos direitos e liberdades, para impulsionar as oportunidades para todos, diferente do Estado excludente."
Humala afirmou ainda que a prioridade de seu governo será reduzir a pobreza. "A democracia será plena quando a igualdade for patrimônio de todos e a exclusão desaparecer até dos lugares mais remotos do nosso país."
O discurso de posse foi acompanhado por Luis Favre, ex-marido da senadora Marta Suplicy (PT-SP), que assessorou Humala na corrida eleitoral. Favre é tido como um dos responsáveis pelo tom de sua campanha.
Juramento
A cerimônia, no entanto, teve momentos tensos. Durante o juramento à nação, Humala respaldou a Constituição de 1979, ignorando a Carta aprovada pelo ex-presidente Alberto Fujimori, em 1993.
O juramento foi acompanhado pelo presidente do Congresso, Daniel Abugattás. O antecessor de Humala, Alan García, não participou da cerimônia, supostamente para evitar ser hostilizado pelo público presente.
A decisão de jurar sobre a Carta de 1979 provocou protestos entre a bancada fujimorista. "O senhor é um usurpador, um golpista e ditador. Seu juramento não é válido", gritou a parlamentar opositora Martha Chávez.
Partidários do presidente intervieram, tentando abafar o protesto com aplausos. Críticos da Constituição dizem que a carta aprovada no governo de Fujimori centraliza poderes e dificulta a inclusão social.
Passada a confusão, Humala anunciou benefícios sociais em seu governo. Segundo ele, o salário mínimo terá um aumento de 75 sóis (cerca de R$ 40) a partir de agosto, e outros 75 sóis em 2012.
O presidente divulgou ainda ações em prol de aposentados e a ampliação de um programa contra a desnutrição infantil.
Sobre a política externa, ele afirmou que priorizará a integração com países vizinhos, sejam eles andinos ou não.
Humala disse, no entanto, que não copiará modelos externos. "Queremos que o Peru deixe de ser um espaço problemático e construa um caminho próprio. Tomaremos como exemplo o melhor de outras experiências."