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Hamas, Fatah e Jihad unidos pela guerra

Rodrigo Craveiro

 

As bandeiras verdes se misturavam às amarelas. No palanque, uma cena inimaginável. O primeiro-ministro da Faixa de Gaza e líder do Hamas, Ismail Haniyeh, abraçou e beijou Nabil Shaath, membro do Comitê Central do Fatah — o partido do presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas. Ao lado deles, estavam representantes da Jihad Islâmica, o outro movimento que integra a "resistência contra a ocupação israelense".

O primeiro dia depois que as bombas silenciaram, na Cidade de Gaza, foi de comemoração pelo suposto triunfo da causa palestina e de gestos de aceno à reconciliação. Três líderes da Jihad Islâmica e do Hamas, incluindo Haniyeh, telefonaram para Abbas e declararam apoio à demanda por uma vaga na ONU como Estado observador. "O presidente Abu Mazen (apelido de Abbas) felicitou Hanieyh pela vitória e expressou simpatia em relação aos mártires", disse um comunicado emitido pelo escritório do premiê.

"Nós estamos satisfeitos com o acordo de cessar-fogo (mediado pelo Egito), que constitui em uma base para deter a agressão inimiga contra nosso povo", declarou Haniyeh, durante o "discurso da vitória", televisionado para todo o território palestino, pouco depois da aparição pública. "Os guerrilheiros da resistência mudaram as regras do jogo da ocupação. A opção de invadir Gaza, depois dessa vitória, deixou de existir e nunca mais retornará", prometeu. Por sua vez, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, garantiu que as metas de suspender os lançamentos de foguetes e de enfraquecer o Hamas foram alcançadas. E ameaçou retomar os bombardeios, caso a trégua fracasse. "Eu sei que há cidadãos que esperavam uma resposta mais dura — e estamos preparados para isso. Nós escolhemos quando agir, contra quem agir e como agir."

O palestino Eyad El-Bayari, 36 anos, não escondia a satisfação. Por telefone, o morador do campo de refugiados de Jabaliya — uma das áreas mais densamente povoadas do planeta, na Faixa de Gaza — disse ao Correio que, pela primeira vez, presenciou uma igualdade de forças entre Israel e o Hamas. "Havia divergências entre os movimentos palestinos. Agora, Hamas e Fatah estão juntos. Isso é algo novo", acrescentou. "Pela primeira vez, nós vimos os palestinos mais unidos do que nunca."

A intérprete Nihal Al-Alami, 22 anos, esboçou alívio e o sonho da paz. "As pessoas voltaram às ruas e já fazem compras. Estamos muito tristes por quem se sacrificou, mas felizes por podermos retornar à vida normal. Já podemos beber chá sem medo e sem precisarmos correr das bombas", declarou à reportagem. Também por telefone, Musheer El-Masri, um dos líderes do Hamas (leia o Três perguntas para), admitiu ao Correio: "A guerra deu início à reconciliação com o Fatah". Segundo ele, representantes das facções realizaram encontros para selar a reaproximação. "A nossa estratégia é adotar a reconciliação, mas sem aceitar pré-condições dos EUA ou de Israel. Nossas mãos estão estendidas para o Fatah", concluiu El-Masri.

O clima de júbilo entre os palestinos contrastava com o receio dos judeus. Moradora de Beersheva, no sul de Israel, a assistente social Hilly Nevo, 33 anos, retomava a rotina. "Existe uma tensão no ar, um medo de que algo possa ocorrer", reconheceu, em entrevista à reportagem. "Mas fizemos algumas coisas que não era possível fazer. Hoje (ontem), pude ir ao banco." Hilly chegou a abandonar a cidade com a família. "A sensação de viver aqui é horrível. Você não pode fazer nada, a não ser correr para o abrigo antibombas." Forças de segurança israelenses capturaram 55 "terroristas" na Cisjordânia, além de agentes ligados ao Hamas e à Jihad Islâmica que teriam participado do atentado contra um ônibus em Tel Aviv, na quarta-feira — a explosão deixou 28 feridos.
 

Eu acho…

"A situação por aqui é bem mais calma. Só não é mais tranquila, porque ainda escutamos alguns aviões israelenses sobrevoando Gaza. No entanto, eles não jogam mais bombas sobre nós. Estamos tendo a nossa vida de volta. O acordo de cessar-fogo mencionou os refugiados e alguns aspectos do cerco imposto por Israel. No entanto, ainda não tempos permissão para ir estudar na Cisjordânia."

Nihal Al-Alami, 22 anos, intérprete, moradora da Cidade de Gaza (Palestina).

"Infelizmente, parece que já vimos um cessar-fogo como esse. Dois anos depois da guerra de 2008, nós acabamos nos encontrando novamente nos abrigos antibomba. Eu realmente espero que eu esteja errada. Eu desejo paz e tranquilidade para ambos os lados. Meu irmão se alistou e esperou na fronteira com a Faixa de Gaza para uma invasão. Eu realmente não quis que ele entrasse lá."

Hilly Kudasi Nevo, 33 anos, assistente social, moradora de Beersheva (Israel).

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