O líder do Hamas, Ismaïl Haniyeh, assassinado quarta-feira (31) no Irã, em ataque atribuído a Israel, deve ser enterrado sexta-feira (2) no Catar, onde estava exilado. Após um funeral oficial, marcado por apelos à vingança, que reuniu milhares de pessoas na quinta-feira (1°) em Teerã, uma cerimônia de oração será realizada na mesquita do imã Mohammad ben Abdel Wahhab, a maior da capital, Doha.
(RFI) O corpo de Haniyeh chegou na grande mesquita de Doha, na manhã desta sexta-feira. O Hamas convocou um “dia de fúria” para marcar o enterro de seu líder político e exigiu que “protestos ferozes saindo de todas as mesquitas” após a grande oração de sexta-feira.
Ismail Haniyeh, segundo o movimento islâmico palestino, deve ser enterrado em um cemitério em Lusail, no norte da capital do Catar, com “participação popular e de líderes árabes e islâmicos”.
A Turquia declarou um dia de luto nacional.
Haniyeh, de 61 anos, foi morto na quarta-feira por um “projétil aéreo”, segundo a imprensa local, quando estava em uma das residências reservadas a veteranos de guerra no norte de Teerã, depois de participar da cerimônia de posse do presidente iraniano Massoud Pezeshkian.
O Irã, o Hamas e o Hezbollah libanês acusaram Israel do assassinato. Mas, segundo o Exército israelense, o único ataque realizado naquela noite no Oriente Médio foi o que matou Fouad Chokr, o líder militar do Hezbollah, nos subúrbios ao sul de Beirute.
O The New York Times, citando cinco responsáveis de países do Oriente Médio, que falaram sob condição de anonimato, informa que Ismail Haniyeh foi morto por uma bomba escondida durante cerca de dois meses na residência onde estava hospedado, protegida pelos Guardas de Segurança da Revolução, em um bairro nobre no norte de Teerã.
Temores de extensão da guerra
“Israel não tem ideia de quais linhas vermelhas cruzou”, disse o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, na quinta-feira, durante o funeral de Fouad Chokr, ameaçando Israel com uma “resposta inevitável”. À noite, o movimento anunciou que havia lançado dezenas de foguetes contra o norte de Israel.
O Hezbollah, aliado do Hamas e apoiado pelo Irã, tem trocado tiros quase diários com o Exército israelense ao longo da fronteira entre Israel e o Líbano, desde o início da guerra na Faixa de Gaza, desencadeada pelo ataque do Hamas contra Israel em 7 de outubro.
Os ataques em Teerã e Beirute reavivaram temores de uma extensão da guerra a todo o Oriente Médio, entre Israel e o Irã e os grupos que apoia no Líbano, na Síria, no Iraque e no Iêmen.
O gabinete do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, disse na quinta-feira que Israel estava em um “nível muito alto” de preparação para qualquer cenário, “tanto defensivo quanto ofensivo”.
Num telefonema com Netanyahu na quinta-feira, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, “reafirmou seu compromisso com a segurança de Israel contra todas as ameaças do Irã, incluindo de “grupos terroristas por procuração” como o Hamas, o Hezbollah e os Houthis” do Iêmen, sublinhou a presidência americana.
Poucas horas depois, Biden afirmou que estava “muito preocupado” com as tensões no Oriente Médio e disse que o assassinato do líder do Hamas “não ajudou” a situação.
Funeral e apelos à vingança
Na quinta-feira, milhares de pessoas, carregando retratos de Ismail Haniyeh, compareceram ao seu funeral em Teerã, marcado por apelos à vingança.
O líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, que ameaçou Israel com “castigos severos”, recitou a oração pelos mortos diante dos caixões de Ismail Haniyeh e do seu guarda-costas, cobertos com a bandeira palestina.
Os rebeldes Houthi, também aliados do Hamas, prometeram na quinta-feira uma “resposta militar” à “escalada perigosa” provocada, segundo eles, por Israel.
Segundo The New York Times, citando três responsáveis iranianos não identificados, o aiatolá Khamenei, durante uma reunião de emergência do Conselho Supremo de Segurança Nacional na quarta-feira, deu a ordem para atacar Israel diretamente, em resposta ao assassinato de Ismail Haniyeh.
O Catar acolhe o escritório político do Hamas com o aval dos Estados Unidos desde 2012, após o movimento palestino ter fechado seu gabinete em Damasco.
Ismail Haniyeh desempenhou um papel fundamental nas negociações para uma possível trégua em Gaza, em ligação com mediadores do Catar que, após o assassinato do líder do Hamas, lançaram dúvidas sobre o futuro desta mediação.
A comunidade internacional pediu calma e a continuação dos esforços para um cessar-fogo em Gaza.