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Guerrilha “proíbe” uso de agrotóxicos no Paraguai

Fabio Murakawa

O grupo guerrilheiro Exército do Povo Paraguaio (EPP) emitiu um comunicado ameaçando produtores de soja que utilizam pesticidas em seus cultivos. A guerrilha deixou na noite de anteontem um manifesto na rádio Ñandutí, de Assunção.

"Fica terminantemente proibida a fumigação e o envenenamento dos grandes cultivos de soja, que estão afetando a saúde de comunidades vizinhas", dizia o texto, advertindo os "grandes agroexportadores" que abandonassem a prática. "Se persistirem na destruição do meio ambiente, adoentando os nossos irmãos camponeses, seremos implacáveis com vocês."

O EPP é uma guerrilha marxista que opera sobretudo nos Departamentos (Estados) de San Pedro e Concepción, no norte do Paraguai, onde vigora um estado de sítio imposto pelo governo. São um grupo relativamente pequeno, estimado em não mais do que 40 pessoas, mas cuja atuação vem assustando empresários e membros do governo paraguaio. As ações do EPP, que pratica sequestros há mais de uma década, já afetam negócios no país, mexendo inclusive com os interesses de sojicultores brasileiros radicados no Paraguai.

"Tenho uma guarda privada para proteger a minha casa, e meu escritório em Assunção está há mais de um ano sob a proteção de policiais", disse ao Valor o empresário Tranquilo Favero. Há 42 anos no país vizinho, ele é o maior produtor individual de soja do Paraguai.

Ele conta que pediu proteção ao governo depois que seu nome foi achado em listas de possíveis candidatos a sequestro encontradas pela polícia em esconderijos da guerrilha.
Favero teme ter o mesmo fim de Fidel Zavala, um importante pecuarista paraguaio sequestrado dois anos atrás pelo EPP.

A guerrilha forçou sua família a distribuir carne gratuitamente a famílias de baixa renda, dizendo aos "beneficiários" ser uma "cortesia do EPP". Zavala permaneceu três meses em cativeiro e só foi libertado após o pagamento de um resgate estimado em US$ 550 mil. Um ano antes, outro fazendeiro, Luis Lindstrom, foi libertado após o pagamento de US$ 300 mil ao grupo. Zavala disse a policiais que os guerrilheiros estavam armados com fuzis M16, pistolas e granadas.

Há também no histórico do EPP vários enfrentamentos com as forças de segurança. No final de setembro, um grupo de dez homens matou dois policiais em um ataque com explosivos na cidade de Capitán Gimenez, em Concepción.

A insegurança na área de atuação do EPP mexe também com os planos de investimento das cooperativas brasileiras instaladas no Paraguai. "Nós fomos à região para ver se nos encorajávamos a comprar algumas terras por lá. Por enquanto, não temos a intenção de investir naquela área", disse ao Valor Ovídio Zanquet, gerente-geral da cooperativa paranaense Lar no Paraguai. "As terras por lá são boas, a região tem futuro. Além disso, em zonas de conflito, os preços ficam mais baratos. Mas, por enquanto, não dá para investir."

Apesar de a guerrilha se autodenominar ideológica, na opinião do brasileiro Favero a verdadeira área de atuação do grupo é o narcotráfico. "Eles não querem que o progresso chegue à região", afirmou. "Onde há soja, abrem-se estradas, a infraestrutura melhora, e diminui o espaço para plantar maconha."

Com agências internacionais

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