O Golã "continuará sendo israelense" declarou nesta terça-feira (9) o escritório do primeiro-ministro israelense em resposta ao secretário de Estado dos Estados Unidos, Anthony Blinken, que deu a entender que o apoio americano ao controle do Golã por Israel não era imutável.
Blinken declarou na segunda-feira à rede CNN que o Golã é "muito importante para a segurança de Israel", mas que "as questões de legalidade" são "de outra ordem".
"Com o tempo, se a situação mudar na Síria, é algo que analisaremos" disse, acrescentando que o presidente Joe Biden não conversou com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu desde sua chegada à Casa Branca em 20 de janeiro.
"A posição de Israel é clara. Em qualquer cenário, o Golã continuará sendo israelense" disse nesta terça-feira à AFP um alto responsável do gabinete de Netanyahu, que pediu anonimato.
Entre suas inúmeras decisões de claro apoio a Israel, o ex-presidente Donald Trump assinou em março de 2019 um decreto reconhecendo oficialmente a soberania de Israel sobre a parte ocupada do Golã sírio, anexionada em 1981. A comunidade internacional nunca reconheceu esta anexação.
Israel e Síria, que tecnicamente continuam em guerra, são separados por uma fronteira nas Colinas do Golã, que Israel ocupa desde o fim da guerra dos Seis Dias em 1967.
Israel alerta para ataques de aliados do Irã para pressionar Biden
O Irã tentará recorrer aos seus aliados no Oriente Médio, incluindo o planejamento de ataques contra "alvos ocidentais", para se colocar em uma posição de força contra os Estados Unidos de Joe Biden e renegociar o acordo nuclear, segundo um relatório da Inteligência israelense.
Israel nunca escondeu sua oposição ao acordo de 2015 sobre o programa nuclear iraniano e apoiou a campanha de "máxima pressão" da gestão anterior de Donald Trump, que retirou unilateralmente Washington do pacto e impôs novamente as sanções a Teerã.
Seu sucessor na Casa Branca, o democrata Biden, se comprometeu a retornar ao acordo, desde que o xiita Irã volte a cumprir com seus compromissos.
Este retorno seria "algo ruim", reiterou recentemente Israel através do comandante do seu Exército, Aviv Kochavi, que afirmou estar trabalhando em novos "planos" para combater qualquer ameaça nuclear do Irã.
Difíceis contratempos
Em Tel Aviv, sede do Exército israelense, os responsáveis dos serviços de inteligência militar dizem esperar que o Irã queira negociar algumas mudanças antes de retornar ao acordo de 2015.
Para isso, Teerã usaria a capacidade para provocar danos dos seus aliados, como o Hezbollah libanês, seus combatentes na Síria ou seus parceiros em Iraque, Iêmen e Gaza para pressionar Washington.
A vontade do Irã de tomar represálias é alimentada especialmente, segundo essas fontes, pelos difíceis contratempos sofridos por Teerã em 2020.
O chefe de suas operações exteriores, o general Qasem Soleimani, morreu em janeiro do ano passado em um ataque de um drone americano em Bagdá. Em novembro, morreu o físico nuclear Mohsen Fakhrizadeh, perto de Teerã, em uma operação que o Irã atribui a Israel.
Desde a morte de Soleimani, o Irã resiste economicamente se desviando das sanções americanas e reforçando as capacidades de seus aliados, afirma o relatório israelense, cujo esboço a AFP teve acesso.
O documento avalia que o Hezbollah poderia aumentar a pressão na fronteira entre o Líbano e Israel com ataques contra drones israelenses ou mediante confrontos, com o objetivo de equilibrar a correlação de forças, mas sem desencadear uma guerra.
No entanto, existe uma probabilidade cada vez maior de uma escalada involuntária na fronteira se o Hezbollah calcular mal a resposta de Israel, aponta a Inteligência militar israelense.
Atualmente, "o eixo xiita enfrenta um 'déficit de dissuasão' contra Israel e quer agir [para remediá-lo], o que pode arruinar a estabilidade" na fronteira norte, resume um alto comandante do Exército israelense que pediu anonimato.
Na vizinha Síria, Teerã dispõe de 25.000 combatentes, em sua maioria sírios e afegãos liderados por algumas centenas de iranianos, e transfere para lá mísseis de cruzeiro, drones, sistemas de defesa aérea e radares, de acordo com a inteligência militar israelense.
"Eficazes"
Em outros lugares da região, os aliados de Teerã "no Iraque e no Iêmen representam opções baratas, eficazes e negáveis [das quais Irã pode negar ser o autor] para realizar ataques sem risco de guerra", afirma o alto comandante.
O responsável israelense se refere aos rebeldes huthis no Iêmen, embora Teerã afirme que não fornece apoio armado a eles.
"No próximo ano, Irã pode retomar os ataques contra alvos ocidentais em todo o mundo, mantendo a ambiguidade" sobre seu envolvimento, acrescentou.
Como um "contrapeso ao eixo xiita" regional, os recentes acordos de normalização entre países árabes, como Emirados Árabes Unidos, e Israel constituem uma "importante oportunidade para aumentar a pressão sobre o Irã", conclui esta fonte.
O relatório anual também expressa preocupação com as crescentes capacidades científicas do Irã que, em janeiro, anunciou a produção de urânio enriquecido a 20% em sua fábrica subterrânea de Fordo.
"Embora os acordos possam prevenir o acúmulo de combustível nuclear, alguns projetos de desenvolvimento e de pesquisa são, por sua vez, irreversíveis", resume o alto comandante israelense.