GEOPOLÍTICA DO BRASIL
Gen Ex Re Maynard Marques de Santa Rosa
A guerra da Ucrânia parece um ponto fora da curva no contexto do que o Ocidente convencionou como politicamente correto. No entanto, não é mais do que um incidente na realidade geopolítica das relações internacionais no Leste europeu.
A compreensão do conflito está distorcida pela guerra informacional. Não há noticiário confiável da mídia brasileira. Faltam informações sobre os fatos. Os boletins resumem-se a comentários de jornalistas e entrevistas de “especialistas” que pouco entendem do assunto. A percepção do cenário só pode ser obtida por dedução, mediante a ligação de aspectos relevantes dispersos no contexto geral.
Como se trata de guerra, é justo lembrar que a geopolítica é uma ciência cujas leis não têm relação com o direito internacional nem com as convenções morais. A função dela é estudar a sinergia povo-ambiente, para identificar as constantes e variáveis que interferem na formulação de soluções aos problemas do Estado.
A meu ver, esta guerra sinaliza alteração no equilíbrio do poder global. Após o desfecho da crise do talibã, os EUA perderam a liberdade de ação que lhe permitiu intervir impunemente no Iraque, na Iugoslávia, no Afeganistão e na Síria. A ascensão do bloco euroasiático tornou o mundo multipolar.
O vácuo de poder no hemisfério Sul abre uma oportunidade de ascensão do Brasil. Infelizmente, o país não está pronto, por não ter feito a tempo o dever de casa. Internamente, a casa está desarrumada. E, externamente, falta superar a indecisão.
O Brasil é o verdadeiro “heartland” da América do Sul. A massa de território, população, recursos naturais e posição geográfica coloca o País como centro de gravidade geopolítico da América do Sul e do mercado regional, sendo pouco provável uma polarização divergente na região Chile-Argentina, graças ao potencial do MERCOSUL.
O território brasileiro tem ainda a vantagem de integrar o Planalto Central e a Bacia Amazônica, que são duas das principais unidades geopolíticas do Continente com força gravitacional para atrair as demais regiões circunjacentes.
No entanto, ainda falta completar a manobra geopolítica do Brasil. A unificação dos dois antigos Estados coloniais autônomos, o Brasil e o Grão-Pará, feita em 1823, não está plenamente consolidada. A configuração isolada de ambos requer um esforço de integração. Ressalte-se que a sociedade amazônica formou-se isoladamente do resto do Brasil. A dependência dos Estados amazônicos em relação ao governo central vai perdurar por muito tempo, até que se consiga criar um mercado regional que torne a economia amazônica autossuficiente.
O Mal Mário Travassos, na década de 1930, preconizou a integração nacional e a idéia dos corredores de exportação. Foi com verdadeira clarividência que anteviu o pensamento de Deng Xiaoping ao turbinar o progresso da China moderna.
O sociólogo Sérgio Buarque de Holanda mostrou que o português teve êxito na formação da sociedade tropical, por haver respeitado a liberdade de empreendimento dos colonos. No Brasil atual, a política de criar servidões ambientais e étnicas dificulta a integração nacional, entrava a economia e retarda o desenvolvimento. Os brasileiros precisam entender que os movimentos ambientalista e indigenista internacionais são cavalos de troia neocolonialistas.
Somente quando o Brasil completar a sua integração física e psicossocial, estará pronto para cumprir a destinação de liderança para a qual está geopoliticamente vocacionado.