Brasil pode até ter ambição na cena internacional, mas ontem a presidente e ministros do país eram invisíveis às vésperas da cúpula do G-20 em Cannes. A presidente Dilma Rousseff encontrou-se com o presidente chinês Hu Jintao num hotel que é uma espécie de fortaleza, cercado de grades e policiais por todos os lados. Um encontro entre líderes de dois gigantes em desenvolvimento não é banal e menos ainda na conjuntura atual da economia global. Mas o governo brasileiro resolveu ignorar a opinião pública. Depois de pedidos reiterados ao longo do dia, o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, concordou em falar sobre os encontros bilaterais da presidente. A conversa foi marcada para o fim da tarde. Jornalistas brasileiros e estrangeiros, que o aguardavam numa sala do Palácio do Festival, chegaram a achar que era uma brincadeira quando um diplomata veio anunciar que Patriota não viria mais. A razão: havia um bloqueio de carros das comitivas da chanceler alemã Angela Merkel e do presidente francês Nicolas Sarkozy. Aparentemente, Patriota não podia andar 12 minutos a pé até o local para encontrar os jornalistas porque isso atrapalharia outros compromissos – não se sabe quais. A temperatura em Cannes era amena e o caminho pela beira da praia, sem trânsito e altamente policiado. Não é a primeira vez que o governo brasileiro, em conferências internacionais, se recusa a prestar contas à opinião publica. Há dúvidas sobre se é uma política deliberada ou apenas amadorismo. Em Cannes, o único contato com a imprensa foi logo depois da chegada da delegação para dar um recado relacionado à política paulistana, envolvendo a senadora Marta Suplicy. No G-20 de Cannes, até o presidente chinês, pouco habituado ao contato com a imprensa, tinha entrevista marcada e anunciada para todos os jornalistas que cobrem o evento. A chefe do governo da Austrália, Julia Gillard, que deveria se reunir com Dilma (não foi possível confirmar o encontro), falou abundantemente ao longo do dia. Possivelmente, Dilma Rousseff será enfim vista hoje, nos telões da sala de imprensa, quando chegar às reuniões do G-20. Conforme o protocolo, primeiro chegam os diretores das organizações internacionais, depois entram os chefes de governo e, enfim, os chefes de Estado. O mais novo chefe de governo é o japonês Yoshihiko Noda. Entre os chefes de Estado, a mais recente é a presidente brasileira. O chinês Jintao é o mais antigo, daí por que fará os outros esperarem por ele, o que acaba refletindo simbolicamente a mudança na cena global. Em termos de delegação, de qualquer forma, os Estados Unidos continuam dominando a cúpula do G-20. Obama chegou com 700 acompanhantes e Hu Jintao, com 350. Não se sabe o tamanho da delegação brasileira. A presidência do G-20, neste ano, custará cerca de € 80 milhões aos cofres da França, dez vezes menos que o G-20 do Canadá, há dois anos. Os franceses conseguiram economizar, por exemplo, na segurança, embora a cidade de Cannes esteja fechada por forças policiais. Cerca de 6 mil participantes, entre delegados e jornalistas, vão receber um presente valendo € 14. Já para os líderes, os presentes serão oferecidos por grandes companhias de luxo francesas, como Hermès e Dior. Preocupados com a imagem, em vez de banquete, os franceses oferecerão um menu durante "reunião de trabalho". |