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França – A única força militar da Europa: dando o merecido crédito


Comentário de Gregor Peter Schmitz, de Bruxelas
Revista Der Spiegel  – Alemanha
Tradução e edição: Nicholle Murmel


Na Alemanha, é comum as pessoas questionarem se a França, nossa vizinha, ainda deve ser levada a sério. Primeiro o país se recusou a passar por reformas necessárias, apesar da enchurrada de dados econômicos negativos. Então descobriu-se que o passatempo preferido do presidente François Hollande durante a crise era perambular por Paris de um romance para outro – ao menos de acordo com os tabloides franceses.

Esse tipo de comportamento na França, há muito tempo referida como “Grande Nação” por sua cultura e papel especial no mundo, levou ao tédio coletivo nos círculos políticos de Berlin. Mas não é esse o caso em outras capitais do mundo, como Bagui, na República Centro-Africana ou Bamako, no Mali. Lá, o sentimento em relação à nossa vizinha é diferente. Em Damasco, Teerã, Trípoli e mesmo em Washingon, Paris é levada a sério, e muito.
 
A França pode ser tímida em termos de reformas econômicas, mas é claro que permanece uma grande nação quando se trata de ambições internacionais. Mesmo os conselheiros do presidente Barak Obama descrevem a política externa francesa como “ousada”.
 
Por exemplo, foram os franceses que comandaram boa parte dos desdobramentos na Líbia em combate ao ex-ditador Muamar Ghadafi. Também estiveram de prontidão para agir duante a crise na Síria. E se mostraram firmes durante negociações nucleares difíceis com o Irã (Nota DefesaNet – atitude que muito irritou o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva).

O país também enviou tropas ao Mali para restaurar a estabilidade local. E vem prestando apoio indispensável à República Centro-Africana, onde se estima que mais de um milhão de pessoas tenham sido afetadas por uma guerra sectária sangrenta entre cristãos e muçulmanos. Durante reunião na última segunda-feira (21 JUL 14), os ministros das relações exteriores da União Europeia concordaram em prestar auxílio militar às missões no Mali e na RCA – uma decisão importante e que veio com bastante atraso.
 
Certamente, alguns dos esforços dos franceses ajudaram a desviar a atenção da estagnação doméstica. E os diplomatas em postos no exterior, especialmente na África, ajudam a inflamar a crença do povo francês na glória nacional, bem como assegurar os interesses econômicos nesses locais.
 
Ainda assim, os países da Europa se tornaram tão apáticos quanto ao objetivo final do bloco de estabelecer uma política externa e de segurança comum, que o termo “estratégico” só apareceu em um artigo debatendo política internacional, isso na 11ª hora de encontro entre os ministros. Diante desse quadro, há vários em Bruxelas dispostos em criticar Paris, mas que também acreditam que o país está fazendo de tudo para preservar o que quer que tenha sobrado da estratégia no cálculo de segurança da Europa.
 
O Reino Unido está exausto, a Alemanha está indecisa
 
Os membros mais apáticos da UE são justamente os maiores. O Reino Unido, sofrendo de guerra e fadiga, não está apenas dando as costas ao Continente, mas também ao resto do mundo. O Parlamento britânico rejeitou até mesmo a possibilidade de se ailar aos Estados Unidos em uma possível missão contra Bashar al-Assad.
 
Enquanto isso, a Alemanha, apesar do poder econômico, continua a fingir que é uma versão grande da neutra Suíça. Deveria ser mais fácil para o governo alemão dar suporte aos fanceses agora que os antigos parceiros de coalizão da chanceler Angela Merkel, membros do Partido Democrático Liberal, não estão mais à frente do Ministério das Relações Exteriores. Como titular do Ministério, Guido Westerwelle sempre propagou a cultura da parcimônia militar, e afastou fortemente a Alemanha da França com a recusa de participar do conflito na Líbia.
 
Seu sucessor, o social-democrata Frank-Walter Steinmeier, e sua contraparte francesa, o ministro Laurent Fabius, do Partido Socialista, são muito mais alinhados politicamente. No entanto, ainda é incerto se o envolvimento da Alemanha na África, irá além de apenas prestar apoio logístico. Os alemães em gerão são bastante céticos acerca de missões militares internacionais.
 
Mas o globo não para de girar só porque os alemães – e europeus em geral – preferem encarar o próprio umbigo a agir. Ao descrever a situação na República Centro-Africana neste mês, funcionários da chefe de política externa da União Europeia, Catherine Ashton, informaram que a violência sectária poderia escalar se a situação não fosse controlada depressa. Os especialistas avisaram que o conflito representa uma ameaça não apenas ao país em si, mas também às nações próximas.
 
Os demais europeus podem fazer piadas dos franceses pelo orgulho às vezes exagerado por ainda terem algum poder global. Mas esses mesmos europeus não podem mais agir como se não existisse um mundo além das fronteiras de seus países.

Nota DefesaNet

  Observar que este texto foi escrito por um jornalista alemão, e publicado no Portal da revista semanal Der Spiegel.

As observações do Jornalista Gregor Peter Schmitz, transcritas com rara percepção pela Jornalista Nicholle Murmel, merecem uma análise profunda em Brasília DF.

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