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Forças Armadas do Egito voltam a lucrar com negócios bilionários

Faltam apenas algumas semanas para as eleições presidenciais, e tudo leva a crer que as Forças Armadas egípcias estarão novamente colocando um candidato de suas fileiras para disputar a chefia de Estado. Uma vitória ampla do marechal de campo e ex-chefe do Exército Abdel Fattah al-Sisi no dia 26 de maio é considerada apenas uma formalidade. Nos bastidores, o maior Exército do Oriente Médio já voltou há muito tempo a dominar a vida do país como nos velhos tempos. Isso também pode ser sentido no nível econômico.

Desde a queda do presidente islamista Mohammed Morsi, em julho passado, os generais estão levando adiante vários projetos bilionários. "Muitos investidores procuram abertamente os militares", relata Sherif Zaazaa, jornalista e economista do portal de notícias egípcio Mada Masr. "Você sabe, o Exército sozinho atualmente exerce o controle do país."

Enquanto as empresas privadas sofrem sob o caos geral e a incerteza política desde a Primavera Árabe, o Exército parece quase não ter sido afetado pela crise. Segundo alguns observadores, ele até se beneficia dela.

O governo contratou nos últimos meses construtoras do Exército para vários grandes projetos de infraestrutura. Em novembro, o presidente interino, Adli Mansur, emitiu um decreto que permite ao Executivo conceder contratos de obras sem licitações – um passo que beneficia especialmente as empresas das Forças Armadas.

É sobretudo com investidores do exterior que os generais têm atualmente conseguido fazer mais negócios. Um dos acordos, assinado em março, sobre um projeto de habitação entre o Exército e a construtora Arabtec, dos Emirados Árabes Unidos, é estimado em 40 bilhões de dólares.

Também no setor de fornecimento de energia e em outras áreas da economia, o Exército do Egito vem trabalhando em estreita colaboração com os seus parceiros nos Estados do Golfo. "Muitos desses negócios são feitos porque os governantes dos países do Golfo querem apoiar desta forma o Exército egípcio", afirma Shana Marshall, diretora do Instituto de Estudos do Oriente Médio na Universidade George Washington, em Washington. "Eles querem garantir que o Exército mantenha sua influência e poder no Egito."

Aproveitando os erros de Morsi

Sobretudo a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos querem, com seu apoio aos militares egípcios, manter sob controle a Irmandade Muçulmana. O ano de governo de Morsi, ele mesmo oriundo da organização islamista, causou grande incerteza nas dinastias dos Estados do Golfo. Eles interpretavam a intenção da Irmandade Muçulmana de unir islamismo e democracia como um ataque à sua própria maneira autoritária de governar.

Morsi agiu de forma cautelosa em relação ao Exército e não tocou nos interesses econômicos dos militares. "Mas a impopularidade do presidente e do Partido da Liberdade e da Justiça, braço político da Irmandade Muçulmana, deu às Forças Armadas a desculpa perfeita para assumir o controle completo", opina Shana Marshall.

A parcela exata da economia controlada pelos militares é assunto controverso – as estimativas variam de 5% a 60% do geral. O orçamento de defesa e outras estatísticas que poderiam dar informações mais precisas são guardadas a sete chaves pelos generais. O certo é que o Exército tem influência sobre todos os setores importantes, começando pela produção de massas alimentícias, passando pela fabricação de móveis e TVs até a extração de petróleo e projetos de infraestrutura. O Exército tem seus próprios hospitais, resorts turísticos no Mar Vermelho e desempenha um papel de liderança na agricultura.

À frente das empresas do Exército estão, em sua maioria, militares reformados, que asseguram, assim, uma boa renda na velhice. Ao mesmo tempo, têm reduzido seu apetite para se envolverem em atividades políticas. "Não dá para se saber o tamanho do apoio ao candidato a presidente Sisi dentro do Exército", diz Sherif Zaazaa. "Por isso, é importante fornecer cargos aos potenciais críticos."

Vantagens ante a concorrência

Na maioria das vezes, os militares que exercem cargos executivos não dispõem de especialização econômica. Para se manterem competitivos, eles asseguram suas vantagens por outros meios. As empresas dos militares geralmente são isentas de pagar impostos, além de se beneficiarem de subsídios generosos e da possibilidade de utilizar os recrutas como mão de obra barata.

Enquanto, logo após a revolta de janeiro de 2011, muitos egípcios pediam o fim desses privilégios, nos últimos tempos essas vozes parecem ter se tornado menos numerosas, sobretudo graças aos meios de comunicação. Controlados pelo Estado, eles festejam os militares como salvadores da pátria das mãos dos islamistas.

Sherif Zaazaa acredita que isso pode mudar, caso Sisi não consiga fazer a situação econômica melhorar. Já Shana Marshall adverte que a situação desesperada de muitos egípcios também poderia causar efeito contrário. "As preocupações cotidianas da maioria dos egípcios estão longe de temas como uma maior transparência", ressalta. Ela acha, por isso, pouco provável que as reivindicações antigas voltem à ordem do dia.

 

 

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