Por Yinka Adegoke – Texto do Quartz
Tradução, adaptação e edição – Nicholle Murmel
O grupo terrorista islâmico Boko Haram declarou fidelidade ao Estado islâmico no último fim de semana, poucas horas depois de detonarem bombas em cinco locais movimentados na cidade de Maiduguri, a maior do nordeste da Nigéria. Ao odo 54 pessoas moreram e 146 ficaram feridas segundo asautoridades locais.
O líder da facção extremista, Abubakar Shekau, jurou lealdade ao EI através de um vídeo compartilhado em uma conta no Twitter e que já foi retirada do ar. O anúncio repercutiu imediatamente na mídia global, com especulações acerca do significado dessa boa vontade.
Por acaso um dos maiores medos do ocidente estaria se tornando realidade – que duas das mais perigosas e voláteis militâncias islâmicas começariam a trabalhar juntas, talvez criando um califado global desde o Iraque, passando por todo o Oriente Médio até o oeste da África?
Calma. Não é bem assim.
Ainda que o Boko Haram seja sim perigoso, como ficou provado nos ataques recentes, analistas dizem que a tentativa de se ligar ao Estado Islâmico não necessariamente tornaria o grupo mais forte ou eficiente.
“Esse é um sinal de fraqueza e desespero, e uma tentative de alimentar o moral dos membros do grupo, reforçar a imagem e atrair apoio local”, explica, Scott Stewart, da agência Stratfor. “Eu realmente não enxergo [essa aproximação] como uma grande mudança – não importa como se auto declarem, ainda são as mesmas pessoas. Eles sempre foram claramente influenciados pelo ISIS [como o próprio ISIS também sabe]”, completa.
“Não é a primeira vez que Abubakar Shekau agiu assim. Quando o Boko Haram começou a ocupar territórios na Nigéria no ano passado, ele também manifestou apoio ao EI”, lembra Aliyu Musa, especialista no Boko Haram em entrevista à Al Jazeera.
Nãs últimas semanas, e sob grande pressão de de forças militares conjuntas do Chade, Níger e Camarões, além de um Exército nigeriano renovado, as aspirações do Boko Haram como um califado prórpio foram seriamente prejudicadas. O exército da Nigéria reconquistou várias cidades grandes no nordeste do país, e já eliminou mais de 100 membros do grupo extremista.
Segundo Scott Stuart, no passado houve questionamentos sobre a credibilidade do Exército nigeriano. “Mas a corporação parece realmente estar recebendo ajuda logística de conselheiros externos”, descreve. “O que era um problema sério meses atrás”.
Esse ímpeto dos militares nigerianos foi significativamente reforçado pela adição de tropas das nações vizinhas. As forças do Chade, em particular, expressaram abertamente o sucesso de suas campanhas, incluíndo a vitória na cidade-chave de Dikwa na semana passada (apesar de os pronunciamentos confirmando o sucesso terem mexido com os brios dos oficiais nigerianos). O envolvimento dos países próximos significa que a menos rotas de fuga óbvias para os combatentes do Boko Haram.
A cada dia que passa, parece que o grupo terrorista está fugindo, mas ninguém em posição de autoridade ou mesmo cidadãos comuns nas áreas afetadas devem baixar a guarda por enquanto. O efeito positivo mais imediato do sucesso militar é que mais cidades retornarão às estruturas de governança conhecidas sob controle do governo nigeriano. Mas a população no nordeste do páis permanecerá vulnerável a atos de violência e insurgência do Boko Haram contra alvos menores por mais um bom tempo.