Leslie Leitão, do Rio de Janeiro
Veja.com
Criado em 1983, em Goiás, o 1º Batalhão de Forças Especiais é considerado a unidade de elite do Exército Brasileiro. O treinamento, um dos mais difíceis do país, capacita o soldado que se aventura a quase todo o tipo de missão, desde o planejamento e execução de ações de contraterrorismo, contraguerrilha, fuga e evasão, resistência física e psicológica.
Se o Brasil entrar em guerra com alguma outra nação do planeta, os FEs, como são conhecidos, serão os responsáveis pelos reconhecimentos estratégicos e os primeiros ataques ao inimigo. Esta apresentação dá uma dimensão do tamanho do problema em que a ocupação do Complexo da Maré se transformou, na porta de entrada do Rio de Janeiro. Na noite do último dia 17 de maio, dois desses "supersoldados" foram feridos em confrontos com traficantes que, após mais de um ano de ocupação, continuam a mandar no território.
De acordo com a assessoria da Força de Pacificação, além dos dois sargentos FEs, um terceiro militar de outra unidade do Exército também ficou ferido. "Foram ferimentos leves e receberam atendimento médico imediato", informam, sem detalhes mais aprofundados de cada caso.
O fato é que desde 5 de abril de 2014, quando mais de 3 000 homens das Forças Armadas ocuparam a Maré – atendendo a um pedido de socorro do então governador Sérgio Cabral -, pelo menos 23 militares foram baleados e um deles, o cabo da Brigada Paraquedista, Michel Mikami, de 21 anos, morreu.
A pouco mais de um mês do término da missão, prevista para 30 de junho, os militares, informalmente, admitem o temor de que outras baixas possam arranhar ainda mais a imagem do Exército: "Se até a nossa tropa de elite é atacada desse jeito, está claro que muita coisa deu errado", afirma um oficial do Comando Militar do Leste, que pede para não ser identificado.
Um novo vídeo postado nas redes sociais também mostra um pouco mais da ousadia dos criminosos. No dia 21 de janeiro deste ano, um comboio com cerca de 40 homens percorria as ruas da Favela Vila dos Pinheiros, quando foi atacado. Na ocasião, dois militares se feriram.
As imagens mostram um confronto de mais de dois minutos ininterruptos. Depois de tantos tiros de fuzil, um militar grita: "Para de atirar!", no que é prontamente atendido.
Os bandidos, no entanto, continuam a atacar. E os militares voltam a responder os tiros. E um deles diz: "Não queria ação? Taí ação".
No mês passado VEJA mostrou as relações promíscuas de alguns militares com traficantes, chegando a avisar os bandidos de uma operação que seria realizada pela Polícia Civil em junho do ano passado. Com o vazamento, os bandidos do Morro do Timbau retiraram todo o arsenal que estava escondido ali e levaram para outra parte da Maré.
Essa relação, no entanto, não foi a tônica da ocupação: "Muita gente passou a se omitir mesmo para não morrer. Essa guerra não é nossa", diz um cabo, que foi atacado várias vezes. Numa única semana durante a missão, a Força de Pacificação chegou a se envolver em 80 confrontos diferentes.
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