BOGOTÁ – As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) rejeitaram ontem o apelo do presidente colombiano, Juan Manuel Santos, para que dissolvam a guerrilha. Na primeira reação à morte de líder Alfonso Cano, a organização divulgou um comunicado em que declara que "a paz na Colômbia não vai nascer de qualquer desmobilização". Domingo, 6, um ataque com granadas caseiras matou um e feriu dois na região onde Cano foi morto.
Publicado no site da agência de notícias Anncol, o comunicado diz ainda que somente a "abolição das causas que dão origem ao levante" pode levar ao fim dos conflitos. "Há uma política definida e é isso que vai continuar. Essa não é a primeira vez que os oprimidos e explorados na Colômbia choram por um de seus grandes líderes. Nem a primeira em que têm de substituí-los com coragem e convicção na vitória absoluta", diz a nota.
Em uma declaração transmitida em rede nacional, após a morte de Cano, Santos convocou os rebeldes a "abandonar suas armas e tomar o caminho do diálogo e da paz."
"As Farc chegaram a um ponto de ruptura. Cano podia ter feito a paz comigo, mas perdeu a oportunidade", disse Santos. O presidente assegurou que "a porta do diálogo não está trancada". Mas insistiu que, para isso, seriam necessárias ações das Farc como a libertação de sequestrados.
Os rebeldes, no entanto, não parecem dispostos a recuar. Ontem, um ataque com explosivos contra um posto policial de Piendamó, um povoado de Cauca, reunião onde Cano foi morto, deixou um morto e dois feridos.
Alfonso Cano era o nome de guerra de Guillermo León Sáenz, antropólogo de 63 anos, conhecido como o ideólogo das Farc. Ele assumiu o comando da organização em 2008, após a morte por causas naturais do fundador Manuel Marulanda, o "Tirofijo" (tiro certeiro).
Operação. Eram 19h19 de sexta-feira quando um soldado das forças especiais da Colômbia percebeu movimento nos arredores de uma casa que vigiavam havia mais de dez horas. "Quieto! Levante as mãos!", gritou um militar. O homem, cuja identidade até então era incerta, sacou uma arma e correu. Houve tiroteio e, pouco depois, silêncio. Os soldados se aproximaram e encontram Cano já morto.
O relato foi feito ao jornal El Tiempo por um soldado que participou da operação, chamada de "Odisseia". A reação dos militares ao perceberem que o homem era o número 1 das Farc, segundo ele, foi de "calafrio". "Com a serenidade que aprendemos a ter no treinamento, eu disse que iríamos verificar (a identidade). Mas era indubitável. Embora com a barba raspada, o corpo que tínhamos ali era de Alfonso Cano. Estava morto," relatou.
Ainda segundo disse ao El Tiempo, o comando militar foi avisado imediatamente. "Pediram que verificássemos se era mesmo o chefe das Farc. Para nós não havia dúvidas, mas tínhamos de esperar as provas de impressão digital. Enquanto isso, começamos a buscar os guerrilheiros que estavam com Cano. Um grupo fez um cinturão de segurança em volta dele para evitar um ato desesperado da guerrilha para recuperar o corpo."
AFP