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Farc partem para a retaliação

Os rebeldes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) levaram menos de 48 horas para responder ao apelo do presidente Juan Manuel Santos pela deposição de armas, após a morte do chefe máximo do grupo, Alfonso Cano, em uma ofensiva do Exército colombiano. Ao menos uma pessoa morreu e 19 casas sofreram danos após um ataque em Piendamó, no departamento de Cauca, a mesma região em que o chefe guerrilheiro havia sido morto. A retaliação já era esperada por analistas, como sinal de que, apesar de ter sofrido duro golpe, as Farc continuam em operação.

O ataque foi feito com morteiros artesanais, lançados a partir de uma caminhonete. Somente um dos artefatos explosivos atingiu o alvo, a sede da Polícia Nacional. A ofensiva resultou na morte de um civil, que animava festa infantil, e deixou três policiais feridos, levados para a clínica Estancia, em Popayán. Segundo Alfredo Rangel, diretor da Fundação Segurança e Democracia, o atentado é compatível com as últimas ofensivas do grupo, de maior frequência e menor intensidade:

– Isso mostra que a guerrilha não está em condições de lançar ataques devastadores como no passado, mas tem incrementado o número de operações – disse.

Grupo guerrilheiro lança manifesto
Após a morte de Cano, considerado o ideólogo da organização guerrilheira, Santos afirmou que o grupo não tinha outra opção e que deveria aproveitar a oportunidade para depor as armas. Mesmo sem um sucessor definido, as Farc expressaram por meio de um comunicado oficial a disposição para permanecer em combate.

"A única realidade que simboliza a queda em combate do camarada Alfonso Cano é a imortal resistência do povo colombiano, que prefere morrer a viver de joelhos mendigando. A história das lutas deste povo está repleta de mártires, de mulheres e de homens que jamais deram o braço a torcer na busca da igualdade e da justiça", afirma o comunicado, disponível na página da agência de notícias Anncol.

O texto do secretariado das Farc afirma ainda que a paz na Colômbia não nascerá de nenhuma desmobilização guerrilheira, e sim da abolição definitiva das causas que deram início ao levante.

Santos havia afirmado ontem que o governo não havia fechado as portas ao diálogo, mas que qualquer avanço nas negociações de paz dependeria da manifestação de sinais claros por parte da organização.

– Têm sido frequentes as manifestações do governo e das Farc de disposição para negociar, mas nunca há acordo quanto às condições necessárias para que isso ocorra. As Farc estão debilitadas e não deveriam exigir as mesmas condições de que quando estavam em posição vitoriosa, há dez anos – avalia Alfredo Rangel.

Outro sinal da debilidade do movimento de guerrilha foi a confirmação do presidente de que a operação contou com informações de pessoas de dentro da organização.

Recompensas altas para delatores
O governo americano deu parabéns aos esforços do governo colombiano na luta contra os guerrilheiros das Farc e classificou a morte de Cano como uma "importante vitória" para o país.

Na imprensa colombiana, análises atribuem o sucesso da operação a uma combinação de política de Estado, investimentos em inteligência, aparelhamento das Forças Armadas com base em recursos dos EUA e compartilhamento de informações entre diversos órgãos.

O uso de tecnologia de ponta para rastrear as comunicações entre os membros do secretariado das Farc e as recompensas milionárias pelas informações sobre os chefes do grupo são apontados como fatores fundamentais para o sucesso da operação "Odiseo", que resultou na morte de Alfonso Cano.

De acordo com o "El Tiempo", o único elo entre o período de maior êxito do grupo guerrilheiro e o atual esfacelamento de lideranças das Farc é a presença de Juan Manuel Santos no governo. Em 2002, quando as Farc romperam o processo de paz com o então presidente Andrés Pastrana, Santos era ministro da Fazenda. Depois disso, ocupou o cargo de ministro da Defesa no governo de Álvaro Uribe e esteve à frente das principais ações contra o grupo.

Apesar destes esforços e das dificuldades envolvidas na substituição de Alfonso Cano como chefe do grupo, as Farc tendem a continuar suas operações movidas com o dinheiro do narcotráfico. Para especialistas, ataques regionais, descentralização e grupos menores de atuação passarão a ser a nova realidade da guerrilha na Colômbia.

O próprio presidente da Colômbia indicou que a guerrilha passará a operar de forma mais fragmentada. Segundo ele, o substituto de Cano não terá o mesmo nível de comando dentro da organização. Até agora os nomes mais cotados entre especialistas são os de Ivan Marquez e Timochenko, que tem o nome de Rodrigo Londoño.

Independentemente do escolhido para o cargo, a avaliação de especialistas é que, com a morte de Cano, a Colômbia começa a derrubar mitos e o Estado volta a exercer autoridade em todo o território.

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