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Fama de ‘marxista’ persegue o papa durante visita aos EUA

O papa Francisco se tornou nesta quinta-feira (24) o primeiro pontífice a discursar em uma sessão do Congresso dos Estados Unidos.

E, apesar das boas-vindas de milhares de pessoas na quarta-feira em Washington – com uma cerimônia na Casa Branca e a canonização do missionário franciscano Junipero Serra – muitos políticos e comentaristas americanos o criticam por suas posições supostamente "marxistas".

Para o conhecido apresentador de rádio conservador Rush Limbaugh, as crenças de Francisco são "marxismo puro". O programa diário de rádio de Limbaugh tem uma audiência de milhões.

Muitos políticos reagiram com indignação a comentários feitos pelo pontífice em uma recente viagem à Bolívia, onde fez duras críticas ao capitalismo.

"Uma vez que o capital se transforma em um ídolo e guia as decisões das pessoas, uma vez que a ganância pelo dinheiro governa todo o sistema socioeconômico, arruína a sociedade, condena e escraviza homens e mulheres, destrói a fraternidade humana", disse ele.

O senador Mike Rounds, ex-governador do Estado de Dakota do Sul e também católico, rebateu a visão do papa: "Se você acredita que a qualidade de vida que foi disponibilizada para milhões de pessoas no mundo todo e liberdades para as pessoas no mundo todo, a maior parte disso aconteceu por causa da inovação gerada pelo capitalismo, e porque os Estados Unidos da América existem".
 
Outros americanos católicos chegaram a ameaçar suspender o apoio financeiro à Igreja se o papa insistir na suposta cruzada contra excessos e liberdade dos mercados.

O biógrafo Paul Vallely, explicou, na revista americana especializada Politico, que"a aversão do papa ao capitalismo vigoroso é simplesmente apocalíptica demais para os magnatas americanos – negligenciando os poderes de cura da tecnologia, ignorando a forma como o livre mercado tirou milhões da pobreza e se recusando a considerar que a posição católica em relação à contracepção é, em parte, culpada pela superpopulação em nosso planeta".

Estrelas do movimento ultraconservador americano conhecido como Tea Party, como a ex-candidata republicana à vice-presidência Sarah Palin ou o ex-pré-candidato republicano Rick Santorum, também demonstraram fortes reticências à "agenda liberal" do papa Francisco.

Santorum, pai de uma família numerosa, chegou a dizer que "às vezes é difícil escutar" o papa Francisco, devido ao fato de o pontífice já ter falado que "ser um bom católico não significa ter filhos como coelhos".

Adam Shaw, da Fox News, comparou a popularidade de Francisco com a desfrutada pelo presidente Barack Obama em seus primeiros dias no cargo.

"Assim como o presidente Obama foi uma decepção para os EUA, o papa Francisco demonstrará ser um desastre para a Igreja Católica", escreveu o jornalista.

Francisco x Bento x João Paulo

James Pethokoukis, jornalista e analista do Instituto de Empreendedorismo Americano (AEI, na sigla em inglês), organização de tendência conservadora, acredita que será mais difícil para Francisco ter nos Estados Unidos a mesma boa imagem que seus antecessores, João Paulo 2º e Bento 16.

João Paulo 2º e Bento 16 tinham opiniões em questões morais que coincidiam plenamente com a dos conservadores americanos, apesar de os dois pontífices também terem feito críticas ao capitalismo e ao livre mercado – mas mais veladas que as de Francisco.

"Seus comentários sobre o capitalismo são surpreendentes porque, com eles, (Francisco) parece não dar valor ao fato de que o capitalismo foi uma força incrível nos últimos 200 anos para aumentar os níveis de vida de milhões de pessoas em todo o mundo e continua sendo", disse Pethoukis em entrevista à BBC Mundo.

Já William Doyle, professor de economia da Universidade de Dallas, no Texas, disse estar surpreso com as críticas de conservadores por considerar que "muitas de suas ideias se encontram implícita ou explicitamente nos evangelhos".

"A razão de os conservadores terem visto com melhores olhos João Paulo 2º e Bento 16 é que estes passaram muito mais tempo falando dos dogmas do catolicismo, sobretudo o que está relacionado à moral sexual", disse Doyle.

Apesar das duras críticas recebidas pelo papa por parte da direita americana, Doyle acredita que os "liberais dos EUA continuam sendo mais hostis em relação à Igreja Católica" do que os conservadores, especialmente devido aos escândalos de abusos nos quais se viu envolvida e por suas posturas em questões de moral.

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