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EXCLUSIVO – A nova perspectiva do Itamaraty


Para o texto em Inglês acesse:

Exclusive – A new perspective for Brazilian Diplomacy Link

O Editor

 

Pedro Paulo Rezende
Exclusivo DefesaNet

 

A reaproximação com os Estados Unidos está nos planos da presidenta Dilma Rousseff e do Itamaraty. Há uma longa associação e uma parceria estratégica natural entre os dois países, estremecida pelos últimos desenvolvimentos da política externa norte-americana em relação ao Brasil. Nos últimos anos, Washington perdeu espaço como parceiro econômico, diante das vantagens oferecidas pela República Popular da China.

O namoro com Washington visa, em um primeiro momento, ampliar as trocas comerciais, que vão bem. Por problemas estruturais, a Argentina vem diminuindo sua participação no MERCOSUL, priorizando o comércio com a China, única potência disposta a ampliar os financiamentos ao país. Isso amplia a necessidade de uma aproximação com os EUA e os países da Iniciativa do Pacífico, mas a vitória da oposição norte-americana pode atrapalhar os planos dos presidentes Barack Obama e Dilma Rousseff de estabelecerem uma reaproximação entre Brasil e Estados Unidos.

Obama foi um dos primeiros chefes de Estado e de governo a cumprimentar a candidata do PT após sua reeleição. No telefonema, o presidente estadunidense reiterou o convite para que a mandatária brasileira visite Washington. Dilma afirmou que não é possível. Há questões internas sérias para confrontar, como o combate à inflação e as denúncias de corrupção na Petrobras.

Aviões e espiões

Os Estados Unidos são os principais compradores de produtos de alta tecnologia brasileiros, principalmente aviões comerciais da Embraer. O fluxo de comércio bilateral nos últimos cinco anos aumentou 11,3%, passando de US$ 53,1 bilhões para US$ 59,1 bilhões. Os Estados Unidos continuam como o país com maior estoque de Investimentos Estrangeiros Diretos (IED) no Brasil.

Apesar disto, ainda restam arestas a serem aparadas. Persiste o desconforto brasileiro com a decisão do Senado dos Estados Unidos de impedir a aquisição do segundo lote de aviões Embraer EMB-314 Super Tucano para a Força Aérea do Afeganistão e o grau de intrusão da National Security Agency (NSA) no tráfego de internet brasileiro, que continua grande.

Os EUA insistem que a vigilância da NSA não extrapolou os limites da legislação internacional e só examinou correspondência eletrônica relacionada a grupos terroristas e de organizações criminosas que ameaçam a segurança dos Estados Unidos. Segundo os estudos desenvolvidos pelo Brasil, a ação da NSA concentrou-se em ações relacionadas a projetos estratégicos do Governo Brasileiro na área de defesa, de produção de energia e de levantamento de reservas minerais, de maneira a beneficiar empresas norte-americanas em concorrências públicas.

União Europeia e relação Sul-Sul

O Brasil também pretende ampliar o comércio com a União Europeia, seja por meio de um acordo bilateral ou pelo Mercosul. As relações com a Alemanha encontram-se em alta e há grande concerto entre a chanceler Angela Merkel e a presidenta Dilma Rousseff. Isso não significa o abandono da vertente sul-sul, que tanto desagrada os conservadores. Está nos planos do Ministério das Relações Exteriores aprofundar a institucionalização de dois blocos: a União das Nações Sul-americanas (Unasul) e o BRICS. O Itamaraty aposta nesses organismos para a criação de um contraponto à ordem multipolar montada pelo governo dos Estados Unidos, com apoio da União Europeia. Para isso é necessário que a Unasul ganhe musculatura e o BRICS se transforme em uma instituição palpável, com secretaria-geral e burocracia formal. O banco do grupo é um passo importante nesse sentido, mas há muito para ser aprofundado.

Ênfase no BRICS

As autoridades brasileiras também querem ampliar a cooperação bilateral com China, Índia e Rússia. Há um alto nível de contentamento com os resultados obtidos nos últimos encontros de Dilma Rousseff com os presidentes Vladimir Putin e Xi Jinping, mesmo assim, há arestas a serem removidas na questão de cessão de tecnologia para novas usinas nucleares para uso civil, principalmente entre Brasil e Rússia.

Uma área que promete forte cooperação é o setor ferroviário. China e Rússia possuem um profundo conhecimento operacional que pode ser transmitido ao Brasil, que se ressente de um sistema centralizado de tráfego de cargas, a exemplo do que já existe no setor elétrico com o Organizador Nacional do Sistema (NOS), que gerencia toda a transmissão de energia do país.

Em troca, o Brasil pode suprir as necessidades de segurança alimentar da Federação Russa e da China. Eventuais superávits a seu favor na balança comercial poderiam ser compensado por meio de importações ou desenvolvimento conjunto de produtos de alta tecnologia de origem russa.

Poderiam ser incluídos nesta hipótese supercomputadores, servidores e roteadores de alta potência para uma rede própria e fechada a ser mantida pelo Governo Federal; o desenvolvimento de produtos na área nuclear para geração de energia e de derivados para uso médico; projetos conjuntos de lançadores e satélites; equipamentos militares que atendam carências das Forças Armadas brasileiras e que possam ser colocados no mercado latino-americano e helicópteros de uso civil e militar.

Há forte entusiasmo das autoridades brasileiras em estabelecer cooperação com a China na área de petróleo e gás e na geração de energia elétrica. Em contraponto, o Brasil pode contribuir com tecnologia de exploração em águas profundas desenvolvida para o Pré-Sal e pesquisa para a viabilização de métodos seguros para a exploração de xisto betuminoso. Os dois países possuem grandes reservas, que atualmente não têm utilização economicamente viável. Os sistemas por craqueamento por injeção de água, desenvolvidos pelos Estados Unidos, apresentam sérios danos ao lençol freático, um dos mais importantes recursos brasileiros — a China, por sua vez, já apresenta alto índice de poluição de seus recursos hídricos e precisa revertê-lo.

Já há conversas entre Pequim e Brasília para o financiamento da exploração de minerais radiativos, como tório e urânio; para o desenvolvimento de reatores de pequeno porte para abastecer cidades de até 1 milhão de habitantes e para a construção de parques eólicos e de geração de energia por força da maré no Nordeste brasileiro.

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