Louis Charbonneau e Yeganeh Torbati
Os Estados Unidos disseram ter mantido nos últimos dois dias as mais sérias e francas negociações já realizadas com o Irã, após diplomatas ocidentais relatarem que a República Islâmica se mostrou disposta a reduzir atividades nucleares delicadas para obter um alívio nas sanções internacionais.
Mas uma fonte graduada do governo norte-americano disse a jornalistas após a conclusão das negociações entre o Irã e seis potências mundiais que nenhuma decisão foi tomada, e que aparentemente não houve redução nas divergências entre o Irã e as seis nações acerca das ambições nucleares iranianas.
"Já faço isso há cerca de dois anos", disse a fonte, pedindo anonimato. "E nunca antes tive conversas tão intensas, detalhadas, diretas e francas com a delegação iraniana."
O porta-voz da Casa Branca, Jay Carney, fez eco às declarações, dizendo que a proposta iraniana demonstra um "nível de seriedade e consistência que não havíamos visto antes", mas que "ninguém deve esperar um progresso da noite para o dia".
Os EUA e seus aliados suspeitam que o Irã esteja tentando desenvolver armas nucleares, o que Teerã nega, insistindo que seu programa atômico se destina apenas à geração de energia para fins civis.
No entanto, o país até agora desafia as exigências do Conselho de Segurança da ONU para suspender o enriquecimento de urânio e outras atividades nucleares que possam ter finalidades militares. Essa relutância já motivou diversos pacotes de sanções, que reduziram as exportações iranianas de petróleo, provocaram uma disparada da inflação e causaram uma forte desvalorização da moeda local, o rial.
A rodada de negociação realizada nesta semana em Genebra entre o Irã e as seis potências – EUA, Rússia, China, França, Grã-Bretanha e Alemanha – estava cercada de otimismo por causa do tom conciliador adotado pelo novo presidente iraniano, Hassan Rouhani, no cargo há dois meses.
Autoridades ocidentais dizem que o Irã precisa ser mais transparente nas suas atividades nucleares, parar de enriquecer urânio até uma concentração físsil de 20 por cento e reduzir seus estoques de urânio enriquecido.
Em uma rara declaração conjunta – sinalizando uma dramática guinada do confronto para o diálogo -, o Irã e as seis potências disseram que a nova proposta de Teerã foi uma "importante contribuição" que está sendo cuidadosamente estudada. Os detalhes da proposta não foram divulgados.
O chanceler Mohammad Javad Zarif, que lidera a delegação iraniana, disse que seu país busca uma nova era nas relações diplomáticas, após uma década de tensão, em que preocupações sobre as ambições nucleares da República Islâmica alimentam temores de uma nova guerra no Oriente Médio.
O governo de Israel – país arqui-inimigo do Irã e supostamente possuidor do único arsenal nuclear do Oriente Médio – informou que o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu deve conversar na semana que vem com o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, sobre o andamento das negociações.
Pedido de Israel*
Israel pediu nesta quarta-feira às potências ocidentais que não revoguem as sanções econômicas ao Irã até que a República Islâmica prove que está desmantelando seu possível programa nuclear.
Os comentários foram feitos após diplomatas iranianos indicarem que o Irã se mostrou disposto, durante negociações nesta semana em Genebra, a abdicar de atividades nucleares consideradas delicadas.
Os Estados Unidos e seus aliados suspeitam que o Irã esteja tentando desenvolver armas nucleares, o que Teerã nega, insistindo que seu programa atômico se destina apenas à geração de energia para fins civis.
"O Irã deveria ser testado por suas ações, não por suas propostas", disse uma fonte graduada do governo israelense, pedindo anonimato.
"Até que passos substanciais sejam realizados que provem que o Irã está desmantelando seu programa nuclear militar, a comunidade internacional deve continuar suas sanções contra ele (Irã)", acrescentou.
Os Estados Unidos disseram ter mantido nos últimos dois dias as mais sérias e francas negociações já realizadas com o Irã, mas uma fonte sênior do governo norte-americano disse a jornalistas que nenhuma decisão foi tomada e que aparentemente ainda não houve redução nas divergências entre o Irã e seis potências mundiais acerca das ambições nucleares iranianas.
Uma nova rodada de diálogo foi marcada para 7 e 8 de novembro.
(Reportagem de Allyn Fisher-Ilan)*